Por Sarah Marsh e Marc Frank
HAVANA (Reuters) - Cuba atribuiu protestos históricos contra o governo que aconteceram no fim de semana à "asfixia econômica" dos Estados Unidos e a campanhas de uma minoria de contrarrevolucionários com financiamento norte-americano nas redes sociais, enquanto o presidente dos EUA, Joe Biden, disse estar ao lado do povo cubano.
As ruas de Havana estavam tranquilas nesta segunda-feira, embora houvesse uma forte presença policial. As suspensões da internet móvel --única forma que muitos cubanos têm de acessar a web-- eram frequentes.
Cantando "liberdade" e pedindo a renúncia do presidente Miguel Díaz-Canel, milhares de cubanos se uniram aos protestos de rua, de Havana a Santiago, no domingo, nas maiores manifestações antigovernamentais na ilha comunista em décadas.
Ao menos 80 manifestantes, ativistas e jornalistas independentes foram detidos em todo o país desde o domingo, de acordo com o grupo de direitos no exílio Cubalex.
"Está se tornando impossível morar aqui", disse Maykel, morador de Havana de 21 anos que não quis informar o sobrenome por medo de retaliação. "Não sei se isto pode acontecer novamente, porque no momento Havana está militarizada".
"Mesmo assim, os cubanos estão perdendo o medo", disse.
Outros entrevistados pela Reuters, no entanto, disseram esperar que não haja mais protestos, citando temores de violência e dizendo que preferem que haja mais diálogo.
Os protestos eclodiram em meio à mais profunda crise econômica de Cuba desde a queda da antiga aliada União Soviética e uma disparada de infecções de Covid-19 que deixa alguns hospitais à beira do colapso em um país que se orgulha de seu sistema de saúde.
O endurecimento das sanções norte-americanas de décadas no governo do ex-presidente Donald Trump e a pandemia exacerbam a escassez de alimentos e remédios, assim como os blecautes.
Uma minoria de contrarrevolucionários está fomentando tumultos, disse o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, em um pronunciamento televisionado de mais de quatro horas de duração ao lado de seu gabinete. O ministro das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez, culpou mercenários financiados pelos EUA. O Departamento de Estado norte-americano não comentou de imediato.
Os protestos seguiram o lançamento de uma campanha "SOS Cuba" nas redes sociais pedindo ajuda humanitária, que o governo disse ser uma tentativa disfarçada de semear agitação.
Díaz-Canel denunciou o vandalismo ocorrido durante as manifestações.
"Eles atiraram pedras em casas de câmbio estrangeiras, roubaram itens... e contra as forças policiais, eles viraram carros – um comportamento totalmente vulgar, indecente e delinquente", disse.
Mas o presidente disse que partidários do governo finalmente restauraram a ordem, depois de, no domingo, instruí-los a lutar e "defender a revolução" - ordens que causaram consternação entre alguns cubanos.
Testemunhas da Reuters viram manifestantes de Havana confrontados por contramarchas pró-governo menores no domingo, enquanto policiais impediam sua tentativa de chegar à Praça da Revolução.
A Anistia Internacional disse ter recebido com alarme relatos de "blecautes da internet, prisões arbitrárias, uso de força excessiva – incluindo policiais disparando em manifestantes". A Reuters não conseguiu verificar de imediato e de forma independente o uso de armas de fogo.
(Por Sarah Marsh, Marc Frank, Nelson Acosta e Reuters em Havana; reportagem adicional de Patricia Zengerle em Washington e Michelle Nichols nas Nações Unidas)