Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - A Polícia Federal montou uma força-tarefa em Brasília para tomar o depoimento de dezenas de militares ao longo desta quarta-feira no inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga os atos violentos que levaram à invasão e depredação das sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro, disseram duas fontes com conhecimento do assunto à Reuters.
Essa é uma das maiores investigações que envolvem integrantes das Forças Armadas conduzidas por tribunais civis desde a redemocratização brasileira.
Segundo uma fonte da PF, ao todo são 94 militares, três dos quais generais, que estão depondo desde o início da manhã na Academia Nacional de Polícia, distante cerca de 20 quilômetros do centro da capital. Um dos que já depôs foi o general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, que chefiou o Comando Militar do Planalto.
No relatório produzido durante a intervenção federal no Distrito Federal, Dutra foi apontado nominalmente como responsável por ter abortado uma ordem dada pelo então interventor, Ricardo Cappelli, para prender pessoas que, após os ataques na Esplanada no dia 8 de janeiro, voltaram para o acampamento que reunia negacionistas eleitorais no QG do Exército.
A previsão, segundo a fonte, é que 49 militares prestem depoimento na manhã e outros 45 no período da tarde. Esses depoimentos estão sendo acompanhados por promotores e procuradores do Grupo Estratégico que foi criado pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, para acompanhar esse e outros casos relativos aos ataques, conforme uma fonte da PGR.
A efetiva investigação de militares no episódio começou a deslanchar no mês passado após o ministro do STF Alexandre de Moraes ter decidido que cabe, sim, ao Supremo investigar e julgar militares pelos atos violentos em Brasília e não à Justiça Militar.
Moraes havia sido provocado a se manifestar pela PF em meio a cobranças feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por aliados de punição a militares por envolvimento nos ataques golpistas.
Em entrevista à Reuters no mês passado, o procurador-geral da Justiça Militar, Antônio Pereira Duarte, disse que não haveria "caça às bruxas" na investigações dos atos de apoio ou de omissão em relação aos ataques às sedes dos Três Poderes, destacando que seu papel é evitar ser "leviano" nas acusações para não incorrer em abuso de autoridade e que as instituições estavam funcionando de forma harmônica e responsável.
Na ocasião, segundo informações do Ministério Público Militar, haviam sido abertas 15 investigações ligadas a atos ligados ao 8 de janeiro envolvendo a atuação de militares em Brasília. A maioria, 11, eram notícias de fato, fase preliminar de apuração -- somente uma delas refere-se a suposta omissão de generais no caso, conduzida por Duarte.