Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, reconheceu nesta quarta-feira que havia a orientação em hospitais da operadora de planos de saúde para alterar o diagnóstico de um paciente com Covid-19 após um período de até 21 dias de internação, o que foi tratado por senadores da CPI da Covid como "manipulação" e "fraude".
"A mensagem é clara: todos os pacientes com suspeita ou confirmados de Covid, na necessidade de isolamento, quando entravam no hospital, precisavam receber o B34.2, que é o CID de Covid, e, após 14 dias – ou 21 dias, para quem estava em UTI –, se esses pacientes já tinham passado dessa data, o CID poderia já ser modificado, porque eles não representavam mais risco para a população do hospital", disse o executivo em depoimento à CPI.
Na prática, segundo senadores da CPI, a mudança na classificação do CID --sigla de Classificação Internacional de Doenças-- poderia fazer com que pacientes que deram entrada em um hospital da empresa com Covid, e posteriormente vieram a morrer, tivessem no atestado de óbito outro tipo de causa mortis.
O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), tratou o caso como "manipulação das informações sobre a causa do óbito" e decidiu incluir o depoente no rol de investigados da comissão. Renan disse que vai enviar as informações colhidas pelo colegiado para uma investigação do Ministério Público estadual de São Paulo.
Outros senadores chamaram a situação de fraude. "O senhor realmente não tem condição de ser médico com a desonestidade que eu vi agora. Sinceramente, sinceramente, modificar o código de uma doença é um crime. Infelizmente, o Conselho Federal de Medicina não pune o senhor", disse o senador Otto Alencar (PSD-BA), integrante da CPI, que é médico.
No depoimento, o diretor da Prevent negou que a operadora tenha utilizado um chamado "kit Covid", embora senadores tenham dito ter informações do uso de medicamentos sem comprovação de eficácia contra a Covid pela rede. Segundo ele, foram administrados anti-inflamatórios, corticoides, anticoagulantes, entre outras medicações.
Batista Junior optou por criticar profissionais que teriam repassado informações que, segundo ele, seriam adulteradas dos trabalhos da Prevent. Reportagens publicadas pela imprensa, algumas delas citadas pelos senadores durante a CPI, apontaram pressão para o uso do kit Covid, entre outras iniciativas.
Em sua defesa, o diretor da Prevent afirmou que a atitude dos ex-médicos da Prevent "envergonha" por dados falsos e manipulados com o objetivo de se escrever um "dossiê criminoso e horroroso" da operadora. Segundo ele, a empresa tem uma das menores taxas de mortes do mundo e está sendo indevidamente exposta.