Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro voltou a levantar dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro, nesta terça-feira, na cerimônia em que foi comemorado o Dia do Exército.
"Todos sabem que a alma da democracia repousa na tranquilidade e na transparência do sistema eleitoral. Sistema esse que deve ser cada vez mais zelado por todos nós. Quem dá o norte para nós são as urnas. Não podemos jamais ter uma eleição no Brasil que sobre ela paire o manto da suspeição", disse Bolsonaro, que frequentemente, e sem apresentar provas, levanta suspeitas sobre o sistema eletrônico de votação.
No último sábado, em entrevista, Bolsonaro chegou a dizer que suspeita do sistema eleitoral e desafiou o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, a prendê-lo ou cassá-lo por duvidar do sistema.
Em um discurso repleto de insinuações, Bolsonaro disse ainda que são as Forças Armadas que "sabem o que é o melhor para o país",
"As Forças Armadas não dão recado, elas estão presentes. Elas sabem como proceder, sabem o que é melhor para seu povo, o que é melhor para seu país", disse.
"Elas têm participação ativa na garantia da lei e da ordem, da nossa soberania e do regime ao qual o povo quer viver. E nós sabemos que esse regime acima de tudo está a nossa liberdade."
Em mais uma fala dúbia, Bolsonaro sugeriu ainda uma ação do Exército em 2016, ano em que ocorreu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
"Também agora em 2016, em mais outro momento difícil da nossa nação, a participação do então comandante do Exército Villas Bôas marcou a nossa história", afirmou, referindo-se ao general Eduardo Villas Bôas.
Em 2018, às vésperas da votação pelo Supremo Tribunal Federal de um habeas corpus para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava preso, o então comandante do Exército usou o Twitter em uma aparente tentativa de intimidação da corte.
"Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do país e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais", escreveu Villas Bôas na ocasião.
O STF negou então o habeas corpus. No segundo semestre de 2019, o tribunal derrubou a possibilidade de prisão de condenados em segunda instância, o que levou à libertação de Lula. No ano passado, todos os processos contra o ex-presidente no âmbito da operação Lava Jato em Curitiba foram anulados depois do então juiz do caso, Sergio Moro, ser considerado suspeito.
Lula lidera as pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial deste ano, na qual Bolsonaro tentará a reeleição.