Por Humeyra Pamuk e Michael Martina
MUNIQUE (Reuters) - O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, alertou no sábado o diplomata chinês Wang Yi sobre as consequências caso a China forneça apoio material à invasão russa da Ucrânia, dizendo em uma entrevista após o encontro dos dois que o governo norte-americano estava preocupado que Pequim estivesse considerando fornecer armas a Moscou.
Os principais diplomatas das duas superpotências se reuniram em um local não revelado em paralelo a uma conferência de segurança global em Munique, na Alemanha, poucas horas depois de Wang afirmar que os EUA estão tendo um comportamento "histérico" em uma disputa contínua sobre a derrubada pelos EUA de um suposto balão espião chinês.
As relações entre os dois países estão tensas desde que Washington disse que a China voou com um balão espião sobre a o território dos EUA antes que caças norte-americanos o derrubassem por ordem do presidente Joe Biden. A disputa também ocorreu em um momento em que o Ocidente está observando de perto a resposta de Pequim à guerra na Ucrânia.
Em uma entrevista ao programa "Meet the Press with Chuck Todd", da NBC News, que deve ser transmitida neste domingo, Blinken disse que os EUA estavam muito preocupados com o fato de a China estar considerando fornecer apoio letal à Rússia e que ele deixou claro para Wang que "teria sérias consequências em nosso relacionamento".
"Existem vários tipos de assistência letal que eles estão pensando em fornecer, para incluir armas", disse Blinken, acrescentando que Washington divulgará mais detalhes em breve.
Wang disse a Blinken que os EUA devem "enfrentar e resolver os danos" às relações bilaterais "causados pelo uso indiscriminado da força", disse o Ministério das Relações Exteriores da China neste domingo.
Wang estava se referindo ao recente abate do que os EUA chamaram de balão espião, mas que Pequim disse ser um equipamento de monitoramento do clima.
Em outra declaração, o ministério chinês alertou Washington contra uma nova escalada.
"Se os EUA insistirem em tirar vantagem da questão, aumentando o hype e expandindo a situação, a China seguirá até o fim e os EUA arcarão com todas as consequências", afirmou.
Falando a repórteres, um alto funcionário do Departamento de Estado disse que a China está tentando "ter as duas coisas", alegando que quer contribuir para a paz e a estabilidade, mas ao mesmo tempo tomando medidas "preocupantes" para apoiar a invasão russa da Ucrânia.
Blinken "foi bastante contundente ao alertar sobre as implicações e consequências de a China fornecer apoio material à Rússia ou ajudar a Rússia na evasão sistemática de sanções", disse o alto funcionário, falando sob condição de anonimato.
A Rússia e a China assinaram uma parceria "sem limites" em fevereiro passado, pouco antes de as forças russas invadirem a Ucrânia, e seus vínculos econômicos cresceram à medida que as conexões de Moscou com o Ocidente diminuíram.
O Ocidente tem desconfiado da resposta da China à guerra na Ucrânia, com alguns alertas de que uma vitória russa afetaria as ações da China em relação a Taiwan. A China se absteve de condenar a guerra ou chamá-la de "invasão".
Mais cedo, falando em um painel na conferência, Wang reiterou um apelo ao diálogo e sugeriu que os países europeus "pensassem com calma" sobre como acabar com a guerra.
Ele também disse que há "algumas forças que aparentemente não querem que as negociações tenham sucesso ou que a guerra termine logo", sem especificar a quem se referia.
SEM DESCULPAS
A reunião de Blinken e Wang ocorreu horas depois que o principal diplomata chinês atacou os Estados Unidos, acusando-os de violar as normas internacionais com comportamento "histérico" ao derrubar o balão.
O voo do balão este mês sobre o território dos EUA provocou um alvoroço em Washington e levou Blinken a adiar uma visita planejada a Pequim. A viagem de 5 a 6 de fevereiro teria sido a primeira de um secretário de Estado dos EUA à China em cinco anos e era vista por ambos os lados como uma oportunidade para estabilizar as relações cada vez mais tensas.
"Ter despachado um caça avançado para abater um balão com um míssil, tal comportamento é inacreditável, quase histérico", disse Wang.
"Existem tantos balões em todo o mundo, e vários países os têm. Então, os Estados Unidos vão derrubar todos eles?" ele disse.
Na entrevista à NBC, Blinken disse que Wang não se desculpou pelo voo do balão.
"Eu disse a ele simplesmente que isso era inaceitável e nunca mais poderia acontecer", afirmou Blinken, referindo-se à violação do espaço aéreo dos EUA pelo balão.
"Não houve pedido de desculpas", disse ele, acrescentando que não discutiu com Wang o reagendamento de sua viagem à China.
(Reportagem de Humeyra Pamuk, Ryan Woo, Michael Martina, Richard Cowan, Trevor Hunnicutt, Sabine Siebold, Andrew Gray, Alexander Ratz, John Irish, Andreas Rinke, Jonathan Landay)