Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro divulgou em suas redes sociais um vídeo de sua visita ao território indígena ianomâmi, com legendas em inglês, em que defende a exploração da terra pelos índios e o chamado "tratamento precoce" contra a Covid-19.
No vídeo divulgado na noite de domingo, editado com algumas das passagens de Bolsonaro pelo território ianomâmi na semana passada, o presidente diz que muitos querem deixar os indígenas "escondidos em reservas".
"Não querem deixar que eles evoluam, não querem deixar que eles plantem nas suas terras, que explorem, que garimpem, que construam pequenas centrais hidrelétricas, que recebam internet. Querem que continuem como?", afirmou.
No domingo, Bolsonaro divulgou um outro vídeo --esse sem legendas em inglês-- em que promete aos ianomâmis que não haverá garimpo em suas terras se os indígenas não quiserem.
"Senhores ianomâmis, nós respeitamos vocês, a vontade de vocês será feita. Vocês não querem mineração, não terá mineração", disse o presidente a líderes indígenas.
Em sua transmissão semanal ao vivo pelas redes sociais na semana passada, o presidente havia anunciado que iria publicar os vídeos, mas estava esperando que fossem legendados para que os estrangeiros entendessem suas conversas com os indígenas.
No vídeo legendado, Bolsonaro também pergunta a um grupo de indígenas com quem conversava se haviam tido Covid-19 e como haviam se tratado. Ao ouvir que usaram remédios caseiros, como chás de folhas de plantas da região, aproveitou para defender o que chama de "tratamento precoce", com uso de medicamentos sem eficácia contra a doença.
"Tem vários canalhas no Brasil contra o tratamento precoce, e aqui eles tomam chá de casca de árvore... ninguém morreu de Covid-19 aqui", disse.
Na verdade, dados oficiais dos Distritos de Saúde Indígena registram 17 mortes por Covid-19 entre os ianomâmis.
Lideranças indígenas da região haviam se manifestado contra a visita do presidente às aldeias.
“Nós, lideranças tradicionais, não estamos interessados em discutir sobre garimpo ilegal na TIY (Terra Indígena Ianomâmi), não queremos negociação de legalização de garimpo, somos contra a exploração de mineração nas terras indígenas”, afirmou o comunicado.
O Palácio do Planalto não confirmou que a viagem ao Amazonas incluiria a visita à terra ianomâmi, apenas a inauguração de uma ponte de madeira construída pelo Exército dentro da área do município de São Gabriel da Cachoeira.
ONGs calculam que, hoje, cerca de 20 mil garimpeiros ilegais exploram a terra ianomâmi, e a atividade ilegal teria avançado 30% apenas em 2020.