Por Lisandra Paraguassu
(Reuters) - Depois de alguns desencontros, o aguardado encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, aconteceu nesta quarta-feira, em Nova York, com uma discussão centrada em possíveis negociações de paz e "em clima de cooperação", de acordo com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
O encontro durou pouco mais de uma hora e, de acordo com uma fonte, sem constrangimentos, apesar de declarações anteriores do presidente brasileiro que incomodaram Zelenskiy, como a ideia de que talvez a Ucrânia tivesse que ceder territórios para a Rússia para poder encerrar a guerra, uma declaração dada em abril.
"Foi uma reunião muito importante porque foi um primeiro contato pessoal entre os dois", disse o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, lembrando que ambos já haviam conversado por telefone e por videoconferência. "O que houve hoje foi um entendimento mútuo muito bom, o presidente Zelenskiy explicou todas as suas posições."
Mauro Vieira acrescentou que Lula deixou claro que o Brasil condena a invasão do território ucraniano. Por vezes, nos últimos meses, a posição do presidente brasileiro foi interpretada como dúbia por Zelenskiy e outros governos, quando Lula colocou em igualdade a culpa de ambos os países na guerra, ou afirmou que nenhum dos dois queria parar a guerra por acharem que iriam vencer.
O Brasil votou a favor de resoluções condenando a invasão nas Nações Unidas e o próprio Lula já falou publicamente que condena a invasão. Mas sua relação com o presidente russo, Vladimir Putin, que vem desde seus primeiros mandatos, e a tentativa de manter um canal aberto de diálogo com a Rússia levaram a declarações contraditórias.
"Ele reafirmou ao presidente Zelenskiy a posição muito clara e constante do Brasil, de que o Brasil condena a invasão territorial, defende os princípios da Carta da ONU e que quer por todas as formas possíveis promover o diálogo e a paz", contou o chanceler.
Ao sair do encontro, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, chegou a afirmar que o encontro servira para "quebrar o gelo" entre os dois chefes de Estado, para em seguida se corrigir: "Não que houvesse gelo para ser quebrado".
"Foi uma conversa agradável e honesta e os dois presidentes hoje entendem as posições um do outro muito melhor", continuou Kuleba.
Segundo Vieira, Lula pediu que Zelenskiy explicasse sua visão sobre a guerra e quais os caminhos possíveis a seguir, e deixou claro a disposição do Brasil de participar de quaisquer grupos que os dois lados queiram criar para discutir a paz, seja o de Copenhague, que já vem se reunindo, seja qualquer outro. Ou mesmo ficar de fora, se for necessário.
"Ele (Lula) insistiu muito dizendo ao presidente Zelenskiy que está disposto a integrar qualquer grupo com outros países escolhidos pelas duas partes, ou até não integrar. Ele disse que se escolherem outros países e não tiver o Brasil não há nenhum problema. O que queremos é promover a possibilidade de um encontro de paz", disse Vieira.
Questionado se o encontro havia tratado de pontos como a cessão de territórios para encerrar a guerra, que Lula havia mencionado em abril, o chanceler negou e disse que isso só diz respeito aos dois países.
"Esses detalhes que são para negociação e dizem respeito diretamente à Ucrânia e à negociação com o outro lado. Não se discutiu condições, não se discutiu nada. O presidente Lula não quis entrar e não teria porque entrar em detalhes que dizem respeito única e exclusivamente às duas partes envolvidas", afirmou. "O que ele insistiu muito foi na negociação, na predisposição de sentar e ouvir o outro lado."
Depois do encontro, os dois presidentes fizeram postagens em suas redes sociais. Em uma foto cumprimentando Zelenskiy, Lula escreveu que teve uma "boa conversa sobre a importância dos caminhos para construção da paz e de manter o diálogo sempre aberto entre os nossos países".
Já o presidente ucraniano afirmou que teve uma "reunião importante" com Lula, ocasião em que ocorreu uma discussão "honesta e construtiva".
"Instruímos as nossas equipes diplomáticas a trabalhar nos próximos passos nas nossas relações bilaterais e nos esforços de paz", publicou Zelenskiy, acrescentando que "o representante brasileiro continuará participando das reuniões da Fórmula da Paz".
O primeiro encontro entre Zelenskiy e Lula vinha sendo preparado há meses. O governo ucraniano solicitou a reunião em Nova York após um desencontro entre os dois líderes na cúpula do G7 na cidade japonesa de Hiroshima, em maio.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu, em Brasília)