Por Sarah Marsh
HAVANA (Reuters) - O governo dos Estados Unidos dobrou a aposta na política de linha dura e aplicação de sanções contra Cuba após os protestos históricos na ilha de governo comunista no mês passado, e anunciou que irá tentar apoiar os manifestantes.
Mas muitos países na América Latina e no Caribe, uma região marcada pelos golpes de Estado apoiados pelos EUA durante a Guerra Fria e que vem se voltando à esquerda nos últimos anos, estão pedindo o contrário.
O presidente norte-americano, Joe Biden, chamou Cuba de "Estado fracassado" após os protestos que aconteceram nos dias 11 e 12 de julho por causa de uma crise econômica e de restrições de liberdades. Seu governo impôs novas sanções sobre os que reprimiram os manifestantes e prometeu à importante comunidade cubano-americana que mais medidas seriam tomadas, entre elas iniciativas para ajudar os cubanos a driblarem a "censura".
Embora as novas sanções sejam amplamente simbólicas, elas sugerem que a volta a um período de entendimento, o que aconteceu brevemente no governo do ex-presidente Barack Obama, não é iminente.
Os governos do Brasil, Colômbia, Equador, Guatemala e Honduras, que são de direita, se juntaram aos Estados Unidos na semana passada para emitir um comunicado condenando as prisões em massa em Cuba pedindo a retomada completa do acesso à internet, que foi interrompido.
Mas apenas 20 ministros de Relações Exteriores do mundo inteiro participaram da assinatura da carta, o que sinaliza o quão relativamente isolado o governo dos Estados Unidos está em relação à sua política externa para Cuba, afirmaram analistas. Mesmo aliados dos EUA, como o Canadá, que condenaram a repressão do governo cubano e se manifestaram pelo direito à liberdade de expressão, não assinaram o documento.
Enquanto isso, os aliados de Cuba à esquerda na América Latina e outros países caribenhos concentraram suas reações na contribuição do embargo norte-americano à atual crise humanitária do país, exigindo que Washington suspenda as sanções. México, Nicarágua, Venezuela e Bolívia enviaram ajuda aos cubanos.
Alguns países na região também alertaram sobre as interferências dos EUA nos assuntos internos de Cuba.
As divisões regionais vieram à luz na semana passada, quando a Organização dos Estados Americanos (OEA) teve que adiar uma reunião sobre a situação de direitos humanos em Cuba por conta das posições contrárias de mais de uma dezena de Estados-membros.
"Qualquer discussão pode satisfazer apenas os gaviões políticos que estão de olho nas eleições parlamentares americanas de 2022, nas quais uma vitória no sul da Flórida com o apoio de exilados cubanos seria um prêmio", escreveu o embaixador de Antígua e Barbuda à OEA, Ronald Sanders, em uma coluna publicada na plataforma digital Caribbean News Global.
"O dever da OEA deveria ser a promoção de relações pacíficas e colaborativas no hemisfério, e não a de alimentar a divisão e o conflito".
Ele havia enviado uma carta em nome dos 13 países da Comunidade do Caribe, ou Caricom, - que, embora pequena, representa um bloco significativo da OEA - pedindo que a entidade reavalie a reunião "improdutiva", enquanto outros países emitiram notas semelhantes.
O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, disse no mês passado que a OEA deveria ser substituída "por uma entidade verdadeiramente autônoma, e que não seja lacaia de ninguém" - um sentimento ecoado pelo presidente argentino, Alberto Fernández.
Obrador também disse que Biden precisa tomar uma decisão sobre o embargo contra Cuba, já que "quase todos os países do mundo" são contrários a ele, enquanto Fernández disse que nenhum outro país deve decidir o que os cubanos fazem.
(Reportagem adicional de Matt Spetalnick)