Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O Exército brasileiro decidiu silenciar sobre o aniversário do golpe de Estado em 1964 que mergulhou o país durante 21 anos numa ditadura militar no primeiro ano da data alusiva após o fim do governo de Jair Bolsonaro, um militar da reserva.
Durante os quatro anos da gestão Bolsonaro, a efeméride foi louvada pelo então presidente e comemorada em diversos atos públicos, a despeito de recomendações do Ministério Público Federal para que não houvesse festejos.
Em 2023, quando se completam 59 anos do golpe, a cúpula militar seguiu a nova orientação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre manifestações na data. O Exército confirmou oficialmente à Reuters a nova posição.
"Atendendo à sua solicitação formulada por meio de mensagem eletrônica, de 31 de março de 2023, sobre o assunto 'comemorações alusivas ao 31 de março', o Centro de Comunicação Social do Exército esclarece que não há comemoração ou ato oficial relativo ao "31 de março de 1964" no âmbito da Força Terrestre", respondeu.
O Ministério da Defesa, por sua vez, não divulgou qualquer comunicado formal. O titular da pasta, José Múcio Monteiro, teve conversas com os comandantes das Três Forças e deu a linha de orientação, segundo uma fonte com conhecimento das tratativas.
No ano passado, a título de comparação, houve uma "Ordem do Dia" --assinada pelo então ministro da Defesa, Walter Braga Netto, que foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro, e dos comandantes das Três Forças-- que exaltava a atuação dos militares nos eventos que culminaram com a deposição do então presidente, João Goulart, e na instauração de uma ditadura que vigorou até 1985.
"Nos anos seguintes ao dia 31 de março de 1964, a sociedade brasileira conduziu um período de estabilização, de segurança, de crescimento econômico e de amadurecimento político, que resultou no restabelecimento da paz no país, no fortalecimento da democracia, na ascensão do Brasil no concerto das nações e na aprovação da anistia ampla, geral e irrestrita pelo Congresso Nacional", dizia o texto.
Embora o país tenha experimentado forte expansão econômica durante parte da ditadura, o período foi marcado por amplas violações dos direitos humanos, fechamento do Congresso, censura à imprensa, perseguição política, além da tortura e desaparecimento de adversários dos governo.
Em postagem no Twitter, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que em um "sinal dos tempos" o Exército teria avisado que iria punir quem comemorasse o golpe de 64.
"Depois de 4 anos de apagão democrático e da tentativa de golpe no 8 de janeiro, os 59 anos do golpe militar no Brasil ganham ainda mais simbolismo. Lembrar sempre para que nunca mais aconteça!", disse ela, com a hashtag #DitaduraNuncaMais.
Lula tem feito movimentos para se reaproximar dos militares, após um início de governo com forte desconfiança por parte do petista.
O petista chegou a trocar seu primeiro comandante do Exército, general Júlio César Arruda, e uma série de militares em postos-chave no governo depois de ter se queixado de falhas na segurança e na inteligência que poderiam ter evitado a invasão às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro.