(Reuters) - O ministro das Comunicações, Fábio Faria, disse nesta sexta-feira ter se arrependido de ter apresentado denúncia sobre suposta falha na veiculação de inserções de rádio da campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), depois que o tema passou a ser usado por bolsonaristas para pedir o adiamento da eleição.
"Entrei nesse tema para resolver inserção via inserção, para tentar mediar um acordo entre o TSE e a campanha. Quando esse assunto escalou, eu saí. Eu me arrependi porque o assunto escalou", disse o ministro em entrevista ao jornal O Globo.
"Se fosse o tema só a inserção, tudo bem. Mas como entraram em outro assunto. Ele não escalou só por isso (inserções), escalou pela denúncia do funcionário do TSE e pediram adiamento", acrescentou.
Faria mencionou o caso de um servidor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que foi exonerado do tribunal e afirmou, em depoimento à Polícia Federal após a exoneração, que desde 2018 vinha apontando problemas nas veiculações da propaganda eleitoral. O TSE afirmou, no entanto, que as alegações feitas pelo servidor são "falsas e criminosas".
O ministro da Comunicação e Fábio Wajngarten, um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro, convocaram a imprensa na noite de segunda-feira para apresentar a denúncia sobre as inserções, que acabou sendo rejeitada rapidamente pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes, por falta de "indício mínimo de prova" das alegações.
A denúncia gerou um racha na campanha de Bolsonaro, uma vez que não teve o apoio do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e do presidente licenciado do PP e ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, conforme uma fonte. Há quem avaliasse no QG de campanha que lançar mão disso a menos de uma semana para o segundo turno era uma estratégia derrotista.
Além de Faria, fez pressão pela apresentação da denúncia o ex-secretário de Comunicação Wajngarten, com aval da chamada ala ideológica mais próxima ao presidente, incluindo seus filhos.
Em um primeiro momento, Bolsonaro usou o caso das inserções para acusar o TSE, sem apresentar provas, de agir a favor de seu adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No entanto, após a rejeição da denúncia pelo TSE e depois que ficou claro que a responsabilidade de fiscalizar as inserções é dos partidos, e não da Justiça Eleitoral, Bolsonaro praticamente abandonou o assunto.
(Por Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro)