Por Francisco Alvarado
SURFSIDE, Flórida (Reuters) - Agentes de resgate que vasculhavam os destroços de um edifício que desabou nos arredores de Miami disseram ter ouvido sons nos escombros durante a noite, e as autoridades aumentaram nesta sexta-feira para 159 o número de pessoas desaparecidas, além das quatro mortes confirmadas.
Daniella Levine Cava, prefeita de Miami-Dade, disse a repórteres que o número de pessoas das quais não se tem notícia aumentou em relação aos 99 iniciais e que mais três corpos foram retirados dos entulhos de madrugada. Há relatos de que mais uma pessoa morreu na quinta-feira.
"Estou rezando por um milagre", disse Rachel Spiegel, cuja mãe Judy Spiegel está desaparecida, à CNN, nesta sexta-feira.
A última vez que Spiegel se comunicou com a mãe foi na noite de quarta-feira, quando sua mãe lhe enviou uma mensagem de texto, animada, dizendo que havia comprado um vestido na internet para sua neta, a filha de Spiegel.
Na manhã do mesmo dia, um setor grande do condomínio Champlain Towers South, de Surfside, cidade em uma ilha na Baía de Biscayne que dá vista para Miami, desabou, disseram autoridades.
"O vestido está no correio e eu só quero que minha mãe o dê a ela", disse Rachel Spiegel à CNN, enxugando as lágrimas.
O chefe do corpo de bombeiros, assistente de resgate de Miami-Dade, Ray Jadallah, disse nesta sexta-feira que as equipes de resgate ouviram sons nos escombros durante a noite, mas que poderiam ser destroços caindo ou pessoas batendo.
Imagens de uma câmera de segurança próxima mostraram um lado inteiro do prédio se dobrando subitamente em duas seções, uma após a outra, perto da 1h30 (horário local), desencadeando nuvens de poeira.
"Estamos ouvindo sons, sons humanos e batidas", disse Jadallah, enquanto as equipes de resgate utilizam pás e britadeiras para abrir um túnel sob os escombros para encontrar espaços onde os sobreviventes possam estar.
Ainda na quinta-feira, equipes de busca detectaram sons de golpes e outros ruídos, mas nenhuma voz emanando das pilhas de escombros.
Mariela Porras, amiga de uma mulher que morava no prédio com sua filha pequena e agora está desaparecida, disse que não abandonou a esperança de que as duas ainda estejam vivas sob os escombros.
"Eu oscilo entre a esperança e o coração partido", disse ela à CNN.
A mulher disse que ligou, mandou mensagem e visitou um centro de acolhimento, mas não ouviu falar sobre sua amiga, uma fotógrafa que estava trabalhando para conseguir uma licença imobiliária.
"AINDA TEMOS ESPERANÇA"
Cava disse nesta sexta-feira que as equipes de resgate estão "incrivelmente dispostas" a encontrar alguém que possa ter sobrevivido ao desabamento.
"Ainda temos esperança de encontrar pessoas vivas", disse a prefeita.
O presidente de Estados Unidos, Joe Biden, aprovou uma declaração de emergência no Estado da Flórida e ordenou assistência federal para suplementar os esforços de reação estaduais e municipais.
"A ação do presidente autoriza o Departamento de Segurança Interna e a Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (Fema) a coordenarem todos os esforços de alívio de desastres", disse a Casa Branca nesta sexta-feira.
Não se descobriu de imediato o que fez a construção de 40 anos desabar, mas autoridades locais disseram que a torre de 12 andares estava passando por uma obra no telhado e outros consertos.
Também na quinta-feira, Cava disse aos repórteres que ainda não há notícias de 99 pessoas, mas que algumas podiam não estar no edifício no momento do desastre.
Outros 110 indivíduos cujo paradeiro era desconhecido inicialmente foram localizados desde então e "declarados em segurança", disse ela.
Uma autoridade dos bombeiros disse mais cedo que 35 pessoas foram retiradas da porção do prédio ainda de pé, e equipes de reação com cães treinados e drones retiraram dois indivíduos dos destroços, um deles morto.
Autoridades disseram que o complexo, construído em 1981, passava por um processo de recertificação que exigia consertos e que há outro edifício em construção em um local adjacente.
O Champlain Towers South tinha mais de 130 unidades, cerca de 80 delas ocupadas. O edifício havia sido submetido a várias inspeções recentemente devido ao processo de recertificação e à construção do prédio ao lado, disse o comissário de Surfside Charles Kesl à emissora WPLG Local 10 de Miami.
(Por Francisco Alvarado em Surfside, Flórida; reportagem adicional de Kanishka Singh em Bengaluru, Rich McKay em Atlanta, Gabriella Borter em Washington e Peter Szekely em Nova York)