Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O ministro da Defesa, José Múcio, e o comandante da Marinha, almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen, defenderam nesta terça-feira em entrevista à Reuters que militares das Forças Armadas que se candidatem a eleições não possam mais voltar para a ativa.
Proposta nessa direção já foi encaminhado pela Defesa para análise da Casa Civil e depois será enviada ao Congresso Nacional para debate e votação.
A ideia inicial seria que o militar que se candidatar a um cargo eletivo teria que seguir para a reserva.
“Só tem eleição no ano que vem, vai dar pra gente discutir“, disse Múcio à Reuters. "É algo que todo mundo está querendo."
Múcio espera que as novas regras já estejam aprovadas para as eleições municipais de 2024.
Estima-se que na eleição de 2022, mais de mil militares se candidataram a cargos eletivos.
“Quando ele (militar) vai (se candidatar) é por que não está mais acreditando no que está fazendo e não quer mais a vida militar“, disse Múcio.
O objetivo do governo é deixar para trás a politização das Forças Armadas, algo comum no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Múcio avaliou que os militares quando voltam à ativa após uma candidatura voltam com um mentalidade mais politizada.
“Quando ele vai, perde e volta, volta com a cabeça na política e pensando na próxima eleição. Começa a fazer movimento interno, grupos e começa a tirar o espírito da hierarquia e disciplina. Não volta mais militar“, argumentou o ministro.
Apesar da proposta, Múcio garantiu que as relações com as Forças Armadas são “ótimas“. O governo Bolsonaro, que é capitão da reserva, foi marcado pela identificação com os militares.
“A relação nunca foi tão boa. É um ambiente pacífico e de parceiros. Se ajudam e o presidente (Luiz Inácio Lula da Silva) tem prestigiado e diria que está tudo ótimo e há harmonia absoluta“, ressaltou o ministro.
O comandante da Marinha fez coro às palavras de Múcio ao afirmar que as relações entre o Executivo e as Forças Armadas são saudáveis e positivas no novo governo.
Olsen concorda também que militares que se candidatam a cargos eletivos não deveriam voltar à ativa após a participação no pleito.
“Quando ingressamos na Força fazemos um juramento que é se dedicar inteiramente às Forças Armadas. É lícito de cada um como conduzir a sua vida, mas se há uma opção na política, seja em outro segmento, não vejo compatível exercer as duas. A Força requer comprometimento e dedicação”, disse Olsen. “Entendo que se dedicado à atividade política não cabe voltar.“
Olsen considera estranho se falar em compatibilizar a carreira militar com a participação política.
“Me parece não ser compatível alguém que concorre ao processo eleitoral, não obtido sucesso, que regresse para a Força. Defesa é algo peculiar, que envolve valores, abnegação, é algo particular“, concluiu Olsen.