Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - A Justiça Federal em Minas Gerais decidiu soltar dois suspeitos que foram presos pela Polícia Federal por suspeita de envolvimento com o Hezbollah no âmbito de investigação que descobriu uma suposta articulação para a realização de ataques no Brasil.
A juíza federal substituta Raquel Vasconcelos Alves de Lima decidiu revogar as prisões de Jean Carlos de Souza e Michael Messias, que foram detidos em operação realizada no mês passado, após ouvir manifestação da PF afirmando que os dois "não oferecem perigo à investigação ou à sociedade".
Segundo uma fonte da PF, os dois cumpriram prisão temporária por 30 dias e não foi pedida a prorrogação porque eles colaboraram com a investigação. Eles disseram que teriam sido alvos de recrutadores do Hezbollah, mas que rejeitaram fazer qualquer tipo de ação.
A magistrada também decidiu converter em prisão preventiva as ordens de detenção temporária de Lucas Passos Lima e Mohamad Abdulmajid, outros dois alvos da PF na mesma investigação. O último, um sírio naturalizado brasileiro que está foragido e teve o nome inscrito na lista de difusão vermelha da Interpol, é apontado pela PF como o principal nome do esquema.
Não foi possível contactar representantes dos acusados de imediato.
"IMINENTE ATAQUE"
De acordo com a decisão da magistrada, a PF abriu inquérito após receber um memorando do FBI, a polícia federal norte-americana, fazendo um "alerta urgente sobre possível planejamento de iminente ataque terrorista no Brasil e/ou nos países vizinhos".
A PF confirmou os indícios de cooptação de brasileiros para a formação de uma rede destinada a ataques.
Um dos que tiveram a prisão temporária convertida em preventiva, Lima chegou a fazer pesquisas em localidades judaicas na capital do país para realizar ataques, de acordo com o despacho da Justiça.
"Com efeito, a Autoridade Policial verificou, a partir da análise dos dados telemáticos obtidos com autorização judicial e do conteúdo do celular apreendido no momento da prisão de Lucas, que este teria realizado tarefas de reconhecimento em locais para possíveis ataques contra a comunidade judaica no Brasil", disse a magistrada.
"A Autoridade Policial aponta que, em setembro de 2023, Lucas pesquisou dados de geolocalização e registrou com vídeo e fotos locais da comunidade judaica no Distrito Federal, especificamente as sinagogas de Taguatinga e Águas Claras e a área judaica do Cemitério Campo da Esperança em Brasília", completou.
A PF também descobriu que Lima teria feito pesquisas sobre "certo líder religioso judaico, a Embaixada de Israel no Brasil, sinagogas localizadas em Brasília e Itumbiara/GO e a Comunidade Israelita Netzarim de Goiás".
Os policiais também descobriram que Lucas vinha realizando treinamento de tiro com armas de fogo e adquiriu dispositivos de espionagem e de vigilância, segundo o documento.