Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Depois de dois dias de reuniões com o governo brasileiro, o enviado especial dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry, afirmou que o seu governo está comprometido com o investimento na proteção das florestas, mas não apontou quanto os EUA poderão colocar no Fundo Amazônia, enquanto a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse esperar recursos "robustos."
"Estamos trabalhando nisso agora", disse Kerry ao ser questionado sobre quanto seria a doação norte-americana. "Temos uma peça de legislação no Senado que tem 4,5 bilhões de dólares como meta. Temos uma na Câmara que tem 9 bilhões de dólares como meta. É bipartidária nas duas casas, mas sabemos que vamos ter uma briga para fazer as coisas andarem nesses canais em particular."
Os valores que tramitam no Congresso norte-americano, no entanto, não são apenas direcionados ao Brasil, mas para ações de combate ao desmatamento, reparação e mitigação em todo o mundo.
"Estamos também trabalhando nos bancos multilaterais de desenvolvimento, também no mercado de carbono, o que achamos que é essencial não apenas para combater o desmatamento, mas para a mitigação e adaptação e construir resiliência e outros desafios que temos", disse o enviado especial norte-americano.
Ao comentar a possibilidade das doações norte-americanas, Marina Silva confirmou que não foram tratados valores, mas destacou que há um compromisso de colaboração dos EUA com o governo brasileiro e doações ao Fundo Amazônia.
"Não se falou de valores, quem vai falar de valores é o Congresso norte-americano", disse Marina. "Há uma decisão de colaborar, e isso é muito importante."
A ministra destacou que a participação dos EUA em um mecanismo como o Fundo é uma novidade, já que o país tende a fazer projetos de cooperação com um mecanismo próprio, o USAID, mas fará parte do Fundo, além de trabalhar para doações privadas e filantrópicas de organizações norte-americanas.
Marina destacou ainda que espera uma doação robusta do governo dos EUA, afirmando que mesmo que isso aconteça - não apenas para o Brasil, mas para proteção de florestas tropicais no mundo - não será suficiente, mas que há um peso político na participação do país nos esforços internacionais.
"Obviamente que com a importância estratégica dos EUA, a colaboração não é apenas econômica, é política, o reconhecimento da importância de um instrumento", afirmou.
O enviado especial norte-americano destacou o compromisso de seu governo com as ações de proteção da Amazônia, que classificou de essencial para que evitar um aumento da temperatura da terra acima de 1,5 graus Celsius.
Para além das promessas de recursos, os dois governos estabeleceram um grupo de trabalho para definir ações de combate ao desmatamento, mitigação, economia sustentável, transição energética, entre outros pontos. Segundo Marina, será feito uma agenda de trabalho que será discutida durante a reunião do G20, aí não apenas entre Brasil e EUA, mas com outros países.
É a terceira vez que Kerry se reúne com Marina Silva desde a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva em outubro passado. Eles se encontraram na Conferência do Clima da ONU no Egito, no começo de fevereiro em Washington, durante a visita de Lula aos EUA, e agora em Brasília.
O enviado especial para o Clima foi convidado, e aceitou, voltar ao Brasil para conhecer a Amazônia, mas não há ainda uma data ou local definido.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu; Texto de Pedro Fonseca)