Por Maria Carolina Marcello e Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O PP, partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), o PDT, o PSB, o União Brasil, a federação PSDB-Cidadania, o Avante, o Patriota e o Solidariedade decidiram se juntar em um super bloco com mais de 170 deputados, anunciaram líderes das legendas nesta quarta-feira, ultrapassando o bloco formado no fim de março com 142 deputados.
Ter número na Casa -- leia-se votos -- garante poder de barganha e capital político a qualquer grupo parlamentar que se constitua. Por isso mesmo, o novo blocão deve se firmar como uma força política que não pode ser desconsiderada pelo governo, caso queira ver aprovados o projeto do arcabouço fiscal, que necessita de maioria absoluta, e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma tributária, que precisa de ao menos 308 votos favoráveis em dois turnos de votação.
O novo super bloco anunciado nesta tarde reúne partidos de variados espectros políticos -- desde o PP, que sustentou o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, até o PSB e o PDT, mais identificados com pautas da esquerda e aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Isso, no entanto, sustentam seus integrantes, não será um problema.
"Vamos iniciar a largada desse bloco simbolizando que é um bloco que vai procurar ajudar o presidente Lula a pavimentar governabilidade e ter uma base sólida aqui na Câmara", disse o líder do PSB Felipe Carreras (PE), que também ficará responsável pela liderança do bloco por dois meses, momento em que devem ser votadas medidas provisórias e projetos importantes para o governo, como o novo marco fiscal e a reforma tributária.
Líderes dos partidos que compõem o bloco combinaram que sua liderança será definida a partir de um rodízio, dando preferência a deputados de partidos mais alinhados ao presidente Lula neste primeiro momento.
O líder do PDT, André Figueiredo (CE), reconheceu as diferenças ideológicas entre os integrantes do novo bloco, mas ponderou que ele possibilitará uma "ampla governabilidade". Afirmou, ainda, que "os partidos do campo da esquerda não serão meros acessórios". Também explicou que partidos do porte do PDT estariam em desvantagem para demandar relatorias e presidências de colegiados, definidos por critérios de proporcionalidade.
"Nunca teríamos condição de pleitear uma relatoria", disse Figueiredo a jornalistas. "Os partidos menores serão empoderados."
Figueiredo destacou que a escolha de Carreras --correligionário do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin-- como primeiro líder do bloco demonstra que este não será um grupo independente do governo.
A formação do novo bloco articulado por Lira, de quebra, agrada a parte do PP que deseja alinhar-se ao governo Lula, além de colocar o grupo parlamentar no topo da lista com preferência na definição de relatorias de matérias e presidências de comissões, avaliou uma fonte que acompanhou as negociações.
E demonstra, de forma explícita, uma reação ao bloco com 142 deputados formado no fim de março por MDB, PSD, Podemos, PSC e o Republicanos --até então uma das siglas do chamado centrão ao lado do PL e do PP.
Pelo Twitter, Lira celebrou a formação do bloco e afirmou que os partidos, juntos, demonstram "que diferenças ideológicas são menos importantes que os interesses maiores do Brasil".
"O bloco é a demonstração de compromisso e responsabilidade com o país. Vamos somar, não confrontar. Atuar juntos na construção de políticas em prol da sociedade. Respeitando as opiniões e a diversidade. Esse é o melhor caminho para apreciação dos projetos importantes para o país", publicou o presidente da Câmara na rede social.
O sistema da Câmara aponta um total de 173 deputados, somados os parlamentares de todos os partidos do novo bloco. Mas lideranças da sigla explicaram que dois deputados não haviam sido contabilizados no sistema da Casa e que, na verdade, o bloco conta com 175 parlamentares.