Por Pedro Fonseca
(Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou nesta quinta-feira que irá negociar com mais partidos a possibilidade de ingressarem no governo de forma a aumentar a base aliada no Congresso Nacional, mas garantiu que os ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Social, que é responsável pelo Bolsa Família, não serão entregues.
"Esse ministério (do Desenvolvimento Social) é um ministério meu. Esse ministério não sai. A Saúde não sai. Não é o partido que quer vir para o governo que pede ministério. É o governo que oferece o ministério. É só fazer uma inversão de valores", disse Lula em entrevista à Record TV, de acordo com trecho divulgado pela emissora. A íntegra será transmitida à noite.
"O que pode acontecer, a partir das férias dos deputados, é que alguns partidos políticos queiram vir a fazer parte da base do governo. Se esses partidos tiverem a decisão de vir participar do governo, nós vamos ter que fazer o manejamento no ministério. Não é nem uma reforma, é apenas acomodação de alguns partidos que ficaram fora, mas que querem participar”, acrescentou.
Fontes ligadas ao governo e do Congresso já haviam afirmado à Reuters que Lula passou a discutir dar mais espaço para aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no alto escalão do governo, inclusive o comando de ministérios e da Caixa Econômica Federal, com o objetivo de garantir maior governabilidade no Congresso a partir de agosto.
Sem uma base sólida na Câmara no primeiro semestre, a articulação política ficou refém principalmente do ritmo de liberação de emendas parlamentares em cada votação e do empenho pessoal de Lira, segundo duas fontes ligadas ao governo. Somente assim foi possível aprovar o marco fiscal, a reforma tributária e o projeto que altera o funcionamento do Conselho. Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), entre outras medidas.
Com a abertura de espaço para aliados de Lira após o recesso, o Palácio do Planalto quer, ao mesmo tempo, evitar o varejo das emendas e ter respaldo para cobrar partidos que fazem parte da coalizão em votações futuras, acrescentaram as fontes.
“Na hora em que você ganha a eleição e você não tem maioria no Parlamento para aprovar a coisa que você quer aprovar, você vai ter que fazer composição. E você faz composição com quem ganhou, você não faz com quem perdeu. Portanto, nós temos que conversar com os partidos que estão dentro do Congresso Nacional", disse Lula na entrevista.
Na volta do recesso parlamentar, em agosto, o Palácio do Planalto terá como desafios concluir as votações na Câmara do novo marco fiscal e da reforma tributária, que deve retornar para análise dos deputados após prováveis mudanças a serem realizadas pelos senadores.
Segundo Lula, todas as negociações com partidos serão feitas às claras para evitar qualquer tipo de "conversa escondida".
"A hora em que voltar o Congresso Nacional, que for juntar os líderes dos partidos com quem eu vou conversar, toda a imprensa vai ficar sabendo o que eu conversei com cada um, o que foi ofertado para a participação no governo e o que o governo quer estabelecer de relação com o Congresso até o fim do mandato”, afirmou.
(Por Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro)