Por Eduardo Simões
(Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial de outubro, criticou nesta terça-feira o procurador-geral da República, Augusto Aras, acusando-o de não processar o que deveria ser processado.
Em entrevista à rádio Mais Brasil, de Manaus, Lula afirmou que há assuntos mais importantes a serem discutidos no Brasil do que a corrupção, como por exemplo, formas de fazer a economia crescer e criar empregos para a população.
"Nós temos muitos assuntos para discutir, mas as pessoas preferem discutir corrupção, porque nessa discussão você pode mentir, você pode falar o que quiser", disse Lula.
Ao mesmo tempo, ele voltou a defender mecanismos de combate à corrupção criados no período que governou o país e criticou o atual governo de Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição e que aparece em segundo lugar nas pesquisas.
"Só tem um jeito de não aparecer corrupção, é não ter corrupção ou você esconder a corrupção. No caso do meu governo a gente escancarou", afirmou Lula.
"Agora, no Brasil o que a gente vê? Você teve um tempo que tinha um procurador chamado engavetador e agora você tem um procurador que não processa as coisas que tem que processar --o resultado da CPI está paralisado-- e ao mesmo tempo você tem um presidente que qualquer denúncia contra ele, ele decreta sigilo de 100 anos", alfinetou.
Ao indicar Aras em 2019 pela primeira vez e, em 2021, pela segunda, Bolsonaro rompeu a prática inaugurada no governo Lula e mantida nas gestões de Dilma Rousseff e Michel Temer de nomear um procurador da lista tríplice formulada após eleição interna da categoria.
Lula e Dilma escolheram sempre os mais votados, Temer optou pela segunda colocada na lista, enquanto Aras não constava dela em nenhuma das vezes que foi escolhido.
O atual procurador-geral é muitas vezes criticado pelos que veem um certo alinhamento dele a Bolsonaro e falta de disposição de dar andamento a casos que desagradam o presidente, como por exemplo as apurações da CPI da Covid no Senado.
Em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, na semana passada, Lula foi perguntado se, caso eleito, manterá a prática inaugurada em seu governo de indicar para a PGR o mais votado na eleição interna da categoria. Ele se recusou a assumir este compromisso, afirmando que quer "deixar uma pulga atrás da orelha" e dialogar com o Ministério Público antes de tomar uma decisão.
A Procuradoria-Geral da República não respondeu de imediato a um pedido de comentário sobre as declarações de Lula a respeito de Aras.