Por Lisandra Paraguassu
(Reuters) - Em seu primeiro discurso durante a visita à Espanha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais uma vez mudou o tom de sua fala sobre a guerra na Ucrânia, e afirmou que "não se pode aceitar que um país invada a integridade territorial de outro", em uma crítica direta aos russos.
Como mostrou a Reuters, depois de duras críticas dos Estados Unidos e da União Europeia a suas falas anteriores, o presidente decidiu usar sua viagem a Portugal e Espanha para limpar os ruídos e deixar claro que a posição brasileira é de neutralidade, e não de simpatia aos pleitos russos.
"Eu compreendo perfeitamente bem como meus amigos europeus vêem a guerra. Uma guerra que jamais poderia ter acontecido, porque não se pode aceitar que um país invada a integridade territorial de outro país. Mas uma guerra que também não tem ninguém falando de paz", afirmou o presidente no encerramento de do fórum de empresários Brasil-Espanha, em Madri.
Dessa vez, Lula esforçou-se para não igualar Rússia e Ucrânia --uma das principais críticas que vinha recebendo, ao colocar os dois países com a mesma responsabilidade pelo conflito--, até mesmo corrigindo atos falhos, como quando disse primeiro "guerra da Ucrânia e da Rússia", e em seguida inverteu a fala para "guerra da Rússia na Ucrânia."
Ao falar da guerra, que classificou de insana, voltou a cobrar que se fale de negociações de paz e repetir o plano do Brasil de criar um grupo para iniciar negociações.
"Eu fico me perguntando até quando essa guerra vai durar, porque se ninguém quiser construir a paz, e os dois lados... o que invadiu esta reticente, e o que foi invadido também tem suas razões para estar reticente, eu fico me perguntando quem é que vai tentar resolver essa situação", disse.
Lula voltou a dizer que vai continuar falando com líderes mundiais para formar um grupo de negociadores da paz, inclusive o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, com quem se encontra na quarta-feira. Afirmou ainda que, nos próximos dias, marcará uma conversa com o presidente da França, Emmanuel Macron.
O presidente também voltou atrás em outra das declarações polêmicas, a de que talvez a Rússia pudesse ficar com o território da Crimeia, invadido em 2014.
"O Brasil está empenhado na tentativa de arrumar parceiros para que a gente possa trazer a paz, para que a Ucrânia possa ficar com seu território, para que a Rússia fique com a Rússia, e para que o mundo não sofra a falta de alimentos, para que o mundo não sofra a falta de fertilizantes e para que o mundo volte a prosperar."
(Reportagem de Lisandra Paraguassu, em Brasília)