BRASÍLIA (Reuters) -O Ministério das Relações Exteriores informou nesta quinta-feira que o Mercosul enviou à União Europeia na véspera sua resposta à carta adicional enviada pelo bloco europeu aos países sul-americanos no âmbito das negociações de um acordo de livre comércio e negociadores dos dois lados discutiram os próximos passos.
"Resposta do Mercosul à UE foi enviada ontem à noite. Hoje há videoconferência entre Mercosul e UE para avançar a discussão, que tem sido objeto de dinâmica frequente de encontros entre os negociadores", disse a assessoria de imprensa do Itamaraty.
Mais tarde, a Comissão Europeia confirmou a realização da videoconferência.
"Recebemos também hoje um documento do Mercosul que utilizaremos como base para um novo compromisso", declarou a Comissão num comunicado, acrescentando que as conversações têm como objetivo concluir as negociações antes do final do ano.
O acordo comercial foi alcançado em 2019, após duas décadas de negociações, mas segue em suspenso devido a preocupações ambientais.
A carta adicional enviada pelos europeus, com cobranças ao Mercosul nessa área, já foi classificada de "inaceitável" pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que afirma que o documento contém ameaças de sanções ao Brasil e que não se pode, em um diálogo entre parceiros, haver ameaças.
O Brasil ocupa atualmente a presidência temporária do Mercosul e Lula tem repetido sua intenção de concluir o acordo comercial com a União Europeia até o final deste ano.
Uma fonte do Ministério das Relações Exteriores do Paraguai disse à Reuters que os países do Mercosul -- formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai -- aparentemente concordaram com a resposta à UE, superando as tensões internas do bloco que haviam adiado o envio da resposta.
"Há uma concordância geral com o Brasil em não aceitar os termos que prejudicam o desenvolvimentos das nações do Mercosul", disse essa fonte.
Em entrevista coletiva nesta semana em Nova Délhi, na Índia, onde participou da reunião de cúpula do G20, Lula defendeu uma reunião de cúpula entre as lideranças do Mercosul e da UE para que haja uma definição sobre o futuro do acordo.
Lula disse ainda que, caso o pacto comercial não seja fechado nos próximos meses, é necessário decidir se as duas partes querem ou não o acordo e, em caso negativo, parar de discuti-lo.
Na coletiva na capital indiana, Lula também repetiu a oposição do Brasil à abertura do setor de compras governamentais, argumentando mais uma vez que essas aquisições são parte das políticas industriais dos países.
Também nesta semana, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse durante discurso sobre o Estado da União no Parlamento Europeu em Estrasburgo, na França, que o bloco quer concluir o acordo com o Mercosul, que seria o maior já firmado pela UE em termos populacionais, até o final deste ano.
No entanto, divisões internas no bloco sul-americano têm reduzido as expectativas de que um pacto comercial seja atingido ainda em 2023 e fatores como a eleição para o Parlamento Europeu no ano que vem e a eleição presidencial da Argentina neste ano podem complicar ainda mais o cenário.
Os negociadores da UE aguardavam a resposta do Mercosul à carta adicional desde março. Muitos esperavam que o acordo fosse rapidamente concluído no governo Lula, que alterou a política ambiental do país para aumentar a proteção da floresta amazônica desde que tomou posso em janeiro.
(Reportagem de Anthony Boadle, em Brasília, Philip Blenkinsop, em Bruxelas, Lucinda Elliott, em Montevidéu, e Daniela Desantis, em Assunção;Texto de Eduardo Simões;Edição de Isabel Versiani e Alexandre Caverni)