JERUSALÉM (Reuters) - O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, defendeu nesta sexta-feira os comentários de seu ministro da Segurança Nacional, representante da extrema-direita do país, que provocaram uma discussão com a supermodelo norte-americana Bella Hadid e foram criticadas como racistas pelos palestinos e por parte de Washington.
Numa entrevista televisiva na quarta-feira, Itamar Ben-Gvir disse que o direito à vida e à viagem segura dos colonos judeus na Cisjordânia ocupadada supera o direito à liberdade de circulação dos palestinos.
Bella Hadid, cujo pai é palestino, respondeu no dia seguinte, dizendo a seus quase 60 milhões de seguidores no Instagram: "Em nenhum lugar, em nenhum momento, especialmente em 2023, uma vida deveria ser mais valiosa do que a de outra", publicou, provocando a repreensão da parte do ministro nesta sexta-feira.
Os palestinos há muito protestam contra as restrições, que incluem postos de controle e autorizações de viagem, impostas por Israel na Cisjordânia, onde exercem um autogoverno limitado e almejam como parte de um futuro Estado.
As Nações Unidas documentaram 645 obstáculos israelenses ao movimento na Cisjordânia até agosto, e afirmou que mais da metade deles tem impacto grave sobre os palestinos.
Ben-Gvir, que vive no assentamento judaico de Kiryat Arba, perto da cidade de Hebron, na Cisjordânia, disse ao N12 News na quarta-feira: "Meu direito, o direito da minha esposa, o direito dos meus filhos de viajar nas estradas da Judéia e Samaria é mais importante do que o direito de movimento para os árabes", referindo-se à Cisjordânia pelo seu nome hebraico bíblico.
Nesta sexta-feira, ele respondeu à publicação de Hadid, chamando-a de "odiadora de Israel" e dizendo que ela havia compartilhado apenas um segmento da entrevista em sua conta nas redes sociais para retratá-lo como racista.
Em um comunicado, Netanyahu disse que Israel "permite a máxima liberdade de movimento" tanto para israelenses quanto para palestinos na Cisjordânia, ao mesmo tempo em que implementa medidas de segurança para evitar ataques palestinos.
O Ministério das Relações Exteriores da Palestina condenou na quinta-feira os comentários de Ben-Gvir no N12 News como "racistas e hediondos" e o Departamento de Estado dos EUA avaliou os comentários como "inflamatórios" e "racistas" nesta sexta-feira.
A violência na Cisjordânia aumentou nos últimos 15 meses, com frequentes ataques militares israelenses, ataques de rua palestinos e ataques de colonos judeus a aldeias palestinas.
Desde janeiro, pelo menos 188 palestinos e 35 israelenses e estrangeiros foram mortos em hostilidades.
Na segunda-feira, um atentado de autoria supostamente palestina matou uma mulher israelense perto do assentamento onde Ben-Gvir mora. Em outra parte da Cisjordânia, soldados israelenses dispararam e feriram gravemente um homem palestino que parecia fugir deles em direção a outro homem ferido.
Membro da coligação religiosa-nacionalista de Netanyahu, Ben-Gvir já foi criticado anteriormente por apoio ao terrorismo e incitação contra o povo árabe. Ele diz que suas opiniões se tornaram mais moderadas desde que ingressou no governo, sem entrar em detalhes.
(Reportagem de Henriette Chacar; reportagem adicional de Rami Ayyub)