BRASÍLIA (Reuters) - Casa tradicionalmente encarada como mais comedida, menos radicalizada e de perfil mais conciliador, o Senado terá feições mais bolsonaristas na próxima legislatura, apontam números já apurados pela Justiça Eleitoral neste domingo, dada a onda de candidatos eleitos tendo como principal cabo eleitoral o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), que levou mais da metade das 27 vagas em jogo.
A eleição de ex-ministros do atual governo para o Senado, como Rogério Marinho (PL-RN), Tereza Cristina (PP-MS), Damares Alves (Republicanos-DF) e Marcos Pontes (SP), além do vice-presidente da República Hamilton Mourão (Republicanos-RS), e do ex-secretário de Bolsonaro, Jorge Seif (PL-SC), oferece, mais do que uma demonstração de força, uma constatação de que o bolsonarismo se consolida e cria raízes na política nacional.
"Extrema-direita muito forte no Brasil todo, surpreendeu sobretudo no Sudeste do país. O Senado, por exemplo, será bem conservador. Para o segundo turno, a eleição de Lula já não é mais tão provável. Bolsonaro chegará com muita força para a reeleição", avaliou o cientista político e professor do Insper, Carlos Melo.
Outros aliados do presidente conquistaram cadeiras no Senado. Esse é o caso de Magno Malta (PL-ES), Wilder Morais (PL-GO) e Hiran Gonçalves (PP-RR), além de Wellington Fagundes (PL-MT), Romário (PL-RJ) e Cleitinho (PSC-MG).
Há ainda os que não se identificam como apoiadores de Bolsonaro, mas alinham-se com bandeiras do presidente, caso do ex-aliado e hoje desafeto Sergio Moro (União-PR), eleito para o Senado.
Se antes a Casa era encarada como um freio de arrumação para pautas radicalizadas --sobretudo as relacionadas a pautas de costume, a flexibilizações ambientais, ou a grandes guinadas liberais-- é possível que seu perfil sofra alterações, dada a eleição, por ora, de mais de 15 nomes alinhados ao campo da direita, e três ligados à esquerda --Camilo Santana (PT-CE), Teresa Leitão (PT-PE) e Beto Faro (PT-PA)-- e um de centro-esquerda, o senador Otto Alencar (PSD-BA).
Ainda que o número de nomes ligados a Bolsonaro tenha ultrapassado o de candidatos defendidos pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a projeção é de que haja uma diluição em parte dessa onda na correlação de forças do Senado, uma vez que nas eleições deste ano apenas 1/3 das 81 cadeiras da Casa estava em jogo.
Ainda não é possível avaliar que nomes de fato irão ocupar a Câmara dos Deputados, mas a perspectiva é que a Casa mantenha seu perfil conservador, liberal, reformista, a partir de uma expectativa de baixa renovação.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello e Eduardo Simões)