Por Leonardo Benassatto
ILHABELA, São Paulo (Reuters) - Julio Cardoso se inclina sobre a lateral de um barco para fotografar uma baleia jubarte enquanto ela bate sua cauda gigante na água no litoral de Ilhabela, em São Paulo.
Com outros observadores voluntários, Cardoso usa as fotografias para coletar informações sobre o número dos mamíferos marinhos, ajudando pesquisadores e cientistas a rastrear o aumento do número de jubartes na região.
"É um grupo de pessoas, voluntários, trabalhamos a bordo em diferentes barcos e temos pessoas olhando da terra, então temos informações muito boas sobre a presença de baleias jubarte aqui", disse Cardoso, um aposentado que montou o projeto de observação de baleias Baleia à Vista, em 2015.
Houve um aumento considerável no número de baleias na costa de Ilhabela nos últimos anos, e muitas agora retornam aos seus locais de reprodução originais ao longo da costa brasileira, onde costumavam ser mortas em massa por caçadores, segundo o cientista José Truda Palazzo.
"Esses animais sobreviveram à caça de baleias com uma população muito, muito pequena restante... algo entre 300 a 500 animais", disse Palazzo, do Instituto Baleia Jubarte, no Estado da Bahia.
Palazzo diz que depois que proteções legais foram implementadas na década de 1980, as baleias -- que só produzem um filhote a cada dois ou três anos -- começaram a aumentar. Em seu último censo em 2022, 30.000 animais foram registrados em águas brasileiras.
Palazzo diz que o trabalho dos pesquisadores voluntários autofinanciados é "extremamente útil" na tarefa de rastrear os animais, já que muitos projetos de conservação são subfinanciados e carecem de recursos.
Cardoso e sua equipe fotografam as caudas das baleias, que é a melhor maneira de identificá-las, pois, como as impressões digitais humanas, não há duas caudas idênticas. Eles carregam as fotos no site Happywhale, uma plataforma global de observação de baleias que usa algoritmos de processamento de imagem para combinar fotos de baleias com coleções científicas.
“A identificação com foto pode fornecer informações sobre a história de vida dos indivíduos, mas também permite entender melhor a dinâmica populacional ao conhecer os movimentos desse animal, como eles migram e se cruzam com outras populações”, disse Palazzo.
Algumas das jubartes que eles avistaram no país vieram ou chegaram à Antártida, Patagônia e África, e houve uma que veio da Austrália.
Palazzo diz que o aumento das baleias em Ilhabela é uma ótima notícia para a conservação marinha, não só no Brasil, mas no mundo todo.
“Isso mostra que, se pudermos fazer uma proteção efetiva para as espécies marinhas, a maioria delas se recuperará”, disse ele.