Por Catarina Demony e Miguel Pereira
LISBOA (Reuters) - Nascido em uma das favelas mais violentas do Rio de Janeiro, Caué Santos não poderia ter imaginado que um dia cruzaria o Oceano Atlântico para se apresentar em Lisboa em um evento com a presença do papa Francisco. Para ele, é um sonho realizado.
Santos, 16, é um violinista de uma orquestra composta por músicos jovens da Favela da Maré, casa de mais de 140 mil pessoas, onde violentas batidas policiais e conflitos entre gangues de traficantes de drogas são comuns.
“Se não fosse pela orquestra, que certamente salvou muitas pessoas… muitos de nós não estaríamos aqui agora”, disse Santos, antes de uma apresentação no centro de Lisboa, antes de uma visita do pontífice a Portugal entre 2 e 6 de agosto. Francisco comparecerá à reunião do Dia Internacional da Juventude de jovens católicos.
Criada em 2010, a orquestra “Maré do Amanhã” é uma criação de Carlos Prazeres e do seu pai, Armando, um maestro que foi sequestrado e morto em 1999. Seu carro manchado de sangue foi encontrado na Maré.
Em vez de transformar seu luto em ódio, Prazeres decidiu usar a música para tirar as crianças das ruas e afastá-las do tráfico de drogas. A Maré do Amanhã já ensinou 3.500 crianças.
“É uma coisa maravilhosa se sentir realizado, ver de onde você veio e onde está agora”, disse Santos, que se juntou ao projeto quando tinha nove anos e é estudante de Ana Beatriz Sousa, também uma violinista da Maré, que tem 24.
Sousa fazia parte de um grupo de orquestra que encontrou Francisco no Vaticano em 2017, uma experiência que ela nunca esquecerá.
Em Portugal, estão sendo organizados vários shows e flashmobs para marcar o evento católico, que trará mais de um milhão de peregrinos.