Por Lisandra Paraguassu e Eduardo Simões
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), leu na sessão conjunta de Câmara dos Deputados e Senado nesta quarta-feira o requerimento de criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro.
Após ler o requerimento, Pacheco pediu que os partidos e os blocos partidários indiquem os membros que vão compor a CPMI, que deverá se tornar palco de intensos e frequentes embates entre a base aliada e a oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"A presidência solicita aos senhores e às senhoras líderes que indiquem os nomes dos membros dos partidos e blocos para integrarem a referida comissão, de acordo com a proporcionalidade que será enviada, após publicação, às lideranças das Casas legislativas", disse Pacheco no início da sessão do Congresso.
Pouco depois da fala de Pacheco, em uma demonstração do que deve ser o clima acirrado na comissão, o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), apresentou questão de ordem para que seja levada em conta os blocos partidários formados na segunda quinzena de fevereiro, para que seu bloco tenha três senadores na CPMI e não apenas dois, que seria resultado de uma mudança recente nesses blocos. Pacheco respondeu que analisará o assunto.
Na semana passada, a Reuters teve acesso a uma prévia da composição apontando que o governo tinha boas chances de emplacar um bom número de aliados dentro da CPMI. Pelas regras do Congresso, cada Casa, indicaria 16 parlamentares. O governo também trabalha para ocupar os postos-chave da CPMI e controlar a condução das investigações.
Inicialmente o Planalto foi contra a instalação de uma CPI para investigar os ataques de 8 de janeiro, quando vândalos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram e depredaram o Palácio do Planalto e os prédios do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF).
No entanto, essa posição mudou após a divulgação de vídeo do dia dos ataques que mostrou o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, andando no Planalto em meio aos ataques.
O episódio levou à queda de GDias, como é conhecido. Ao mesmo tempo, ajudou a reforçar narrativas bolsonaristas de que o Planalto teria facilitado a ação dos vândalos.
Recentemente o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que o Planalto está pronto para o embate político, acompanhará de perto os trabalhos da comissão e escalará um time de parlamentares com experiência em CPIs para, em suas palavras, destruir a "narrativa terraplanista" de que vítimas dos ataques são responsáveis pelos atos.
(Reportagem de Lisandra Paragussu, em Brasília, e Eduardo Simões, em São Paulo)