BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo que, se não for firmado o acordo de livre comércio entre o Mercosul com a União Europeia, "paciência", mas destacou que não se pode dizer que será por conta do Brasil e da América do Sul.
“Se não tiver acordo, paciência. Não foi por falta de vontade. A única coisa que tem que ficar claro é que não digam mais que é por conta do Brasil e que não digam mais que é por conta da América do Sul. Assumam a responsabilidade de que os países ricos não querem fazer um acordo na perspectiva de fazer qualquer concessão. É sempre ganhar mais”, afirmou o presidente em entrevista coletiva em Dubai, onde participou da cúpula do clima COP28.
Lula destacou que os países sul-americanos não são mais colonizados e sim independentes, e que por isso buscam um "certo equilíbrio".
As declarações ocorrem um dia após o presidente da França, Emmanuel Macron, ter dito ser contra o acordo. Ele havia se reunido com o próprio Lula durante a COP 28.
Questionado por jornalistas no sábado após a fala de Macron, Lula chegou a dizer que é um "direito dele" não querer o acordo. "A França é o país mais duro para fazer acordo, mais protecionista", comentou.
Autoridades e diplomatas brasileiros disseram à Reuters no sábado que a União Europeia e o Mercosul não vão conseguir finalizar as negociações na próxima semana, como chegou a ser ventilado, porque o novo governo argentino terá de aprovar as questões pendentes.
“Devido à transição na Argentina, estamos entregando o assunto ao novo governo, que indicou que quer um acordo”, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Havia a expectativa de que o acordo fosse anunciado na cúpula presidencial anual do Mercosul (bloco formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) em 7 de dezembro, no Rio de Janeiro.
Segundo uma autoridade europeia com conhecimento das negociações, a Argentina não está mais aberta a finalizar o acordo sobre o Mercosul. A Argentina elegeu o libertário de extrema-direita Javier Milei como seu novo presidente em 19 de novembro. Milei, que já fez duras críticas ao Mercosul, tomará posse em 10 de dezembro.
(Reportagem de Ricardo Brito; Reportagem adicional de Anthony Boadle)