Por Philip Pullella e Waakhe Simon Wudu
JUBA (Reuters) - O papa Francisco encerrou uma missão de paz no Sudão do Sul neste domingo, pedindo à população que se torne imune ao "veneno do ódio" para alcançar a paz e a prosperidade que lhes escaparam durante anos de conflitos étnicos sangrentos.
Francisco presidiu uma missa no mausoléu do herói da libertação do Sudão do Sul, John Garang, que morreu em um acidente de helicóptero em 2005 antes que o país predominantemente cristão conquistasse a independência do Sudão muçulmano em 2011.
O papa de 86 anos elaborou sua homilia em torno dos temas que dominaram sua viagem à mais nova nação do mundo --reconciliação e perdão mútuo pelos erros do passado. A multidão cantou, tamborilou e saudou quando Francisco entrou na área empoeirada.
Ele pediu à multidão de cerca de 70.000 pessoas que evitasse a "raiva cega da violência".
"Hoje gostaria de agradecer a vocês, porque vocês são o sal da terra neste país. No entanto, quando você considera suas muitas feridas, a violência que aumenta o veneno do ódio, e a injustiça que causa miséria e pobreza, você pode se sentir pequeno e impotente", disse ele, falando a partir de uma grande plataforma de altar com vista para a multidão na capital, Juba.
Dois anos após a independência, o Sudão do Sul mergulhou em uma guerra civil que matou 400.000 pessoas. Apesar de um acordo de paz de 2018 entre os dois principais antagonistas, os combates continuaram a matar e deslocar um grande número de civis.
O arcebispo de Canterbury, Justin Welby, líder da comunhão anglicana global, e Iain Greenshields, moderador da Assembleia Geral da Igreja da Escócia, participaram da missa.
Os três líderes religiosos estão em uma "peregrinação de paz" conjunta inédita para um país que até agora não conseguiu conter o conflito interétnico mortal.
"Este país, tão bonito, mas devastado pela violência, precisa da luz que cada um de vocês têm, ou melhor, da luz que cada um de vocês é", disse Francisco, que retornaria a Roma mais tarde neste domingo junto com Welby e Greenshields.
Sua viagem à África também incluiu uma visita à República Democrática do Congo.
“PONTO DE VIRADA PARA A PAZ”
Ferida Modon, de 72 anos, que perdeu três de seus filhos em conflitos, sentou-se no fundo do campo para assistir à missa em Juba.
"Eu quero que a paz venha ao Sudão do Sul. Sim, acredito que a visita dele mudará a situação. Estamos cansados de conflitos", disse ela. "Queremos que Deus escute nossas orações".
Jesilen Gaba, de 42, uma viúva com quatro filhos, disse: "O fato de as três igrejas se unirem pelo bem do Sudão do Sul, isso é o ponto de virada para a paz. Quero que a visita seja uma bênção para nós. Estivemos em guerra, perdemos muitas pessoas".
Francisco fez outro apelo por um fim ao tribalismo, às irregularidades financeiras e ao nepotismo político na raiz de muitos dos problemas do país.
Ele pediu às pessoas que construam um "bom relacionamento humano como forma de combater a corrupção do mal, a doença da divisão, a sujeira dos negócios fraudulentos e a praga da injustiça".
O Sudão do Sul tem algumas das maiores reservas de petróleo bruto na África subsaariana, mas um relatório da ONU em 2021 disse que os líderes do país desviaram "quantidades surpreendentes de dinheiro e outras riquezas" dos cofres e recursos públicos.
O governo rejeitou o relatório e nega as acusações de corrupção generalizada.