Perto de acertar com PP, Bolsonaro pode atrair deputados, mas provocar racha no partido

Publicado 07.10.2021, 17:15
Atualizado 07.10.2021, 17:20
© Reuters. 18/07/2021
REUTERS/Amanda Perobelli

Por Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello

BRASÍLIA (Reuters) - Com sua filiação praticamente acertada no PP, o presidente Jair Bolsonaro está próximo de definir seu futuro político, mas pode causar um terremoto no novo partido e não conseguir os palanques para a eleição presidencial que deseja, especialmente na região Nordeste, disseram fontes ouvidas pela Reuters.

Depois do fracasso da tentativa de criar sua própria sigla, o Aliança pelo Brasil, Bolsonaro está sem partido desde o final de 2019. O acerto com o PP --ao qual já foi filiado-- teve altos e baixos, chegou a ser descartado, mas ganhou força com o apoio do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, mesmo com uma parte considerável do partido sendo contra.

Duas fontes ouvidas pela Reuters explicam que, apesar da filiação do presidente dificultar a situação do partido no Nordeste --de onde vem o próprio ministro, que é do Piauí-- Ciro vê uma chance de fazer crescer o PP nas regiões Sul e Sudeste sem esforço.

"Ele me disse pessoalmente, para o PP crescer no Sul e Sudeste só estando com Bolsonaro, e que esse é o interesse do partido, apesar de reconhecer que cria uma contraposição com Nordeste", disse uma das fontes, próxima a Bolsonaro.

O atual ministro da Casa Civil conta com a possibilidade de eleger cerca de 20 deputados entre Rio de Janeiro e São Paulo, contando com a atual base bolsonarista que sairia do PSL na janela partidária para acompanhar a ida de Bolsonaro ao PP. São nomes como Carla Zambelli e o filho do presidente, Eduardo, em São Paulo, Carlos Jordy e Hélio Lopes, no Rio de Janeiro.

"Ele acha que Bolsonaro vai conseguir eleger outra bancada dessas, mas é uma avaliação que tenho muitas dúvidas que possa se confirmar", disse uma fonte parlamentar que acompanha as negociações.

Se pode ajudar o partido no Sul e Sudeste, a entrada de Bolsonaro no PP pode provocar uma debandada na região Nordeste --ou ao menos uma dificuldade de Bolsonaro ter palanques que agreguem muito do seu próprio partido. Em vários Estados da região, o PP está em alianças com o PT e não pretende abrir mão de trabalhar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na Bahia, por exemplo, é do PP o vice-governador João Leão, em uma aliança com o governador petista Rui Costa. Em Pernambuco, o PP faz parte do governo do PSB, que já se acertou com Lula para um eventual apoio em 2022, e parte da bancada não quer nem pensar em palanque com Bolsonaro. O próprio Ciro Nogueira se elegeu senador, em 2018, em uma aliança com o PT e fazia campanha para Fernando Haddad.

As últimas pesquisas eleitorais mostram Lula bem à frente de Bolsonaro nas eleições de 2022 e, no Nordeste, essa diferença se amplia ainda mais. A última pesquisa Datafolha mostra que, na região, Lula teria 61% dos votos contra 16% de Bolsonaro. Além disso, 70% dos nordestinos não votariam no atual presidente de jeito nenhum, enquanto esse índice nacional é de 59%,

Uma rejeição nesse nível atrapalha diretamente os planos de candidatos aos governos estaduais, Senado e Câmara.

De acordo com uma terceira fonte ouvia pela Reuters, já há inclusive conversas de alguns parlamentares deixarem o partido se a filiação de Bolsonaro for de fato confirmada --o que deve acontecer em breve.

Na formação do União Brasil, com a fusão do DEM com o PSL, deputados insatisfeitos começaram já a ser sondados para trocar de partido. Ao mesmo tempo, em uma cruzada para aumentar o seu PSD, Gilberto Kassab também abriu os braços para os insatisfeitos do PP.

© Reuters. 18/07/2021
REUTERS/Amanda Perobelli

A insatisfação estaria por trás, por exemplo, da reação do PP ao imbróglio envolvendo as empresas offshore do ministro da Economia, Paulo Guedes. O partido deu apoio majoritário para que Guedes fosse chamado a se explicar no plenário da Casa --um recado da insatisfação com Ciro e a falta de intenção de parte da bancada de apoiar Bolsonaro.

"Ele (Ciro Nogueira) vai crescer o partido numa região e esvaziar na outra. O melhor para o partido era que o presidente não entrasse. Mas se entrar, vai ser o candidato de uma parte só do PP. O resto vai continuar com seus planos", disse a fonte parlamentar.

 

(Reportagem adicional de Ricardo Brito)

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