Por Catarina Demony e Miguel Pereira
LISBOA (Reuters) - Placas que destacam o papel de Lisboa na escravidão e na história africana "silenciada" foram instaladas em diferentes locais da cidade, um momento há muito esperado por muitos, dada a falta de reconhecimento do país em relação ao seu passado colonial.
Do século 15 ao século 19, mais de seis milhões de africanos foram sequestrados e transportados à força por navios portugueses e vendidos como escravos, principalmente para o Brasil, mas pouco se ensina nas escolas sobre isso e o passado colonial de Portugal é frequentemente visto como motivo de orgulho.
Vinte placas foram instaladas em locais de importância histórica, inclusive em uma das principais praças da capital, o Terreiro do Paço, na margem do rio onde muitos africanos escravizados desembarcaram.
"Mais do que apagada, a história foi silenciada", disse José Lino Neves, da Batoto Yetu, a associação por trás do projeto, no evento de lançamento da iniciativa no sábado.
Ele argumentou que era importante reconhecer os vínculos da cidade com a escravidão e como os africanos e pessoas de ascendência africana, de médicos a jornalistas, contribuíram para a sociedade portuguesa.
Outra placa também foi instalada na praça do Rossio, onde durante séculos a comunidade negra se reuniu para festividades, feiras e apresentações.
A associação também instalou um busto de Pai Paulino, um conhecido defensor dos direitos dos negros.
"A história da África é muito maior do que esse episódio negativo e triste (da escravidão)", disse Neves, descrevendo o comércio transatlântico de escravos como uma "ruptura no desenvolvimento da África".
As placas estão prontas desde 2020, mas o projeto, apoiado pela prefeitura, tem sido repetidamente adiado por vários motivos, desde restrições financeiras até mudanças na liderança do governo municipal.
O primeiro memorial de Portugal às vítimas da escravidão, que também será financiado pela prefeitura, foi aprovado como parte do orçamento de 2017-2018 de Lisboa, mas a construção foi adiada desde então.
Neves disse que seria importante para Portugal ter um museu da história da África.
O principal grupo de direitos humanos da Europa disse anteriormente que Portugal tinha que fazer mais para confrontar seu passado colonial e seu papel na escravidão para ajudar a combater o racismo e a discriminação hoje.
Os ativistas argumentam que as reparações e as políticas públicas para combater as desigualdades causadas pelo passado de Portugal são essenciais.
(Reportagem de Catarina Demony, Pedro Nunes e Miguel Pereira)