Por Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu
(Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro (PL) usou o último debate antes do segundo turno para fazer uma promessa de aumento do salário mínimo após o vazamento de estudos que projetavam que seu governo poderia deixar de reajustar o valor, enquanto o adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atacou o candidato à reeleição por sua atuação na pandemia de Covid-19 e pela política pró-armas do governo.
Pressionado pelas notícias de que a equipe econômica estudava desindexar os aumentos do salário mínimo da inflação em caso de reeleição, Bolsonaro afirmou logo na abertura do debate realizado pela TV Globo que vai aumentar o valor para 1.400 reais por mês se vencer a eleição no domingo, apesar de o valor previsto no Orçamento ser menor.
"Tanto é verdade que acertamos a economia que eu posso anunciar que o novo salário mínimo será de 1.400 reais", disse o candidato à reeleição, que aparece entre cinco e seis pontos percentuais atrás de Lula nas pesquisas de intenção de voto para a eleição de domingo.
O valor prometido por Bolsonaro, entretanto, não consta sequer da peça orçamentária de 2023, que prevê um mínimo de 1.302 reais. Neste ano, o salário mínimo está em 1.212 reais
A polêmica dos últimos dias sobre o salário mínimo causou estragos na campanha de Bolsonaro, disseram fontes do QG bolsonarista à Reuters, daí a pressa dos estrategistas em divulgar mensagens nas redes sociais com a nova promessa enquanto o debate da Globo ainda estava no ar.
Reportagens na imprensa contam que há estudos na mesa do Ministério o da Economia que cogitam adotar medidas duras como o não reajuste do salário mínimo pela inflação e cortes em programas como o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) em caso de reeleição para equilibrar o orçamento.
Guedes negou a intenção de adotar tais políticas, atribuindo a supostos petistas infiltrados em sua pasta essas declarações à imprensa. A campanha de Bolsonaro divulgou vídeos do ministro nos quais ele destaca dados da economia e responde a perguntas sobre as supostas medidas, afirmando se tratar de mentiras.
Ao comentar sobre o salário mínimo, Lula questionou Bolsonaro pela falta de aumento real de valor durante seu governo, comparando com aumentos concedidos durante seus dois mandatos (2003 a 2010).
"A massa salarial caiu, o salário mínimo não teve um aumento real, e agora vem com a cara de pau dizer que vai aumentar salário mínimo. Não vai", afirmou o petista. "Você já viu esse país crescer, gerar emprego, não pode ficar acreditando em fantasia".
Bolsonaro também voltou a se dizer vítima do sistema, e chegou a reclamar nominalmente do atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, afirmando que a corte estaria trabalhando para favorecer o adversário.
"O sistema todo está contra mim, grandes redes de televisão, como aqui. O Tribunal Superior Eleitoral, quase todas as queixas dão a seu (Lula) favor, inclusive a questão das inserções das rádios. O TSE toma conta de tudo, mas quando chega numa hora de me atender, por inserções que seu partido em parte roubou.... o TSE inclusive vai investigar a mim e ao partido."
Bolsonaro referiu-se à suposta falta de equilíbrio na veiculação de inserções em rádios, medida que motivou uma denúncia movida por sua campanha que foi rejeitada, por falta de provas, por Moraes.
PANDEMIA E ARMAS
Aparentando estar mais tranquilo do que o adversário, Lula usou oportunidades para voltar a criticar Bolsonaro pela gestão da pandemia de Covid-19, mencionando a demora do governo federal para comprar vacinas, a postura de Bolsonaro contra as recomendações científicas e as quase 700 mil mortes por coronavírus no Brasil.
"Bolsonaro não responde sobre a pandemia porque deve pesar na consciência dele. Se ele tivesse seguido o aviso dos governadores do Nordeste, teria evitado pelo menos 200 mil mortes. Ele, desumano como é, não foi visitar uma pessoa que perdeu um parente", afirmou.
O petista também criticou a política pró-armas de Bolsonaro, que já prometeu reverter caso seja eleito presidente. O petista lembrou a prisão no último domingo do ex-deputado Roberto Jefferson, aliado de Bolsonaro, que abriu fogo com um fuzil e lançou granadas de efeito moral contra a Polícia Federal ao ser preso, deixando dois policiais federais feridos.
"Sabe qual o modelo de cidadão pacífico do Bolsonaro? O Roberto Jefferson, armado até os dentes atirando na Polícia Federal", afirmou.
Bolsonaro rebateu a acusação negando ter relação com Jefferson, apesar de Jefferson ter inclusive o convidado para ingressar em seu partido e ter feito várias declarações em seu favor. O presidente lembrou que, no passado, Jefferson já fez parte da base aliada do governo Lula, tendo sido o delator do esquema conhecido como mensalão.
(Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito, em Brasília; Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)