Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - A Polícia Rodoviária Federal (PRF) disse nesta terça-feira não ser possível estabelecer um prazo para encerrar os bloqueios em estradas de todo o país por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro inconformados com a derrota dele na eleição, com alguns pedindo uma intervenção militar a favor do atual mandatário.
"A de 2018 durou quase uma semana, nós estamos no segundo dia aqui. A gente está utilizando todos os meios possíveis, inclusive com apoio de outras forças, para debelar o quanto antes essas manifestações", disse em entrevista coletiva o diretor-executivo da PRF, Marco Antônio de Barros.
"Estamos trabalhando para voltar (ao normal) o quanto antes. A gente não consegue falar em qual dia e em qual horário vai ser", acrescentou.
Ele negou que a corporação tenha sido condescendente com os bloqueios feitos por apoiadores de Bolsonaro que defendem o desrespeito aos resultados eleitorais ou que tenha sido omissa. A corporação disse ainda que o número de interdições está em trajetória de queda.
A falta de prazo para o fim dos bloqueios nas estradas foi anunciado apesar da decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na segunda-feira pelo desbloqueio imediato das vias.
Moraes determinou ainda que o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, adotasse imediatamente todas as medidas necessárias para a desobstrução das vias sob pena em caráter pessoal de multa de 100 mil reais a partir da meia-noite de terça-feira, além de prever, "se for o caso" o afastamento do dirigente de suas funções e a prisão em flagrante pelo crime de desobediência.
A decisão foi acompanhada até agora por outros oito ministros da corte. Apenas os ministros Nunes Marques e André Mendonça --indicados por Bolsonaro ao Supremo-- ainda não se manifestaram no julgamento, realizado em plenário virtual.
Vasques, que já fez publicações nas redes sociais a favor de Bolsonaro, não participou da coletiva de imprensa dada por representantes da corporação. Segundo o diretor-executivo, ele estava reunido com o ministro da Justiça, Anderson Torres, para discutir o planejamento das operações de desobstrução das vias.
Mais de 36 horas após a definição da derrota de sua tentativa de reeleição nas urnas, Bolsonaro não se manifestou sobre o resultado eleitoral e nem reconheceu a vitória de Lula, eleito com mais de 60 milhões de votos.
O presidente tampouco fez qualquer comentário sobre os protestos de seus apoiadores que bloqueiam estradas em todo o país.
Ao longo de seus quatro anos de mandato, Bolsonaro lançou por diversas vezes suspeitas infundadas contra o sistema eleitoral e fez várias alegações falsas sobre as urnas eletrônicas.
O segundo turno da eleição geral, em que além de Lula foram eleitos 12 governadores de Estado, foi reconhecido como limpo e justo por autoridades de dentro e de fora do Brasil e não houve qualquer relato de fraude durante a votação.