Por Nidal al-Mughrabi e Dan Williams
GAZA/JERUSALÉM (Reuters) - Um primeiro grupo de portadores de passaportes estrangeiros e moradores de Gaza feridos atravessou a passagem de Rafah em direção ao Egito nesta quarta-feira, graças a um acordo mediado pelo Catar, enquanto forças israelenses voltaram a bombardear o enclave palestino por terra, mar e ar como parte de sua campanha militar contra os militantes do Hamas.
Segundo os termos negociados entre o Egito, Israel e o Hamas, 81 feridos e uma lista inicial de 500 portadores de passaportes estrangeiros devem ser autorizados a sair da Faixa de Gaza nos próximos dias, disseram fontes em vários países.
As autorizações limitadas ocorrem mais de três semanas após Gaza ser alvo de um bloqueio total por parte de Israel, que tem bombardeado o enclave densamente povoado e enviado tropas terrestres em resposta a um ataque de combatentes do Hamas em 7 de outubro.
O primeiro grupo de portadores de passaporte estrangeiro a chegar ao lado egípcio pela passagem de Rafah passava por verificações de segurança, segundo uma fonte na fronteira. Três ônibus transportando 160 portadores de passaportes estrangeiros partiram de Gaza, disse um funcionário do lado de Gaza da fronteira.
Antes, um primeiro grupo de feridos atravessou a passagem em ambulâncias e foi examinado por equipes médicas egípcias que os encaminharam para diferentes hospitais, dependendo da gravidade do estado de saúde.
O Egito preparou um hospital de campanha em Sheikh Zuweid, a 15 km de Rafah, e também planeja encaminhar alguns pacientes para vários hospitais permanentes na região do Sinai. Nos casos mais graves, os pacientes devem ser levados para mais longe, na cidade de Ismailia.
Nahed Abu Taeema, diretor do Hospital Nasser na Faixa de Gaza, disse à Reuters que 19 pacientes gravemente feridos de seu hospital estariam entre os 81 levados para o Egito.
"Aqueles exigem cirurgias avançadas que não podem ser feitas aqui devido à falta de capacidades, especialmente mulheres e crianças", disse Abu Taeema.
Os ataques israelenses em Gaza mataram desde 7 de outubro pelo menos 8.796 palestinos, incluindo 3.648 crianças, segundo o Ministério da Saúde na Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas.
Israel lançou os ataques depois que homens armados do Hamas atacaram o sul de Israel em 7 de outubro, matando cerca de 300 soldados e 1.100 civis e fazendo mais de 200 reféns, segundo dados israelenses.
Não houve confirmação imediata das identidades ou nacionalidades dos primeiros titulares de passaportes estrangeiros a deixar Gaza, mas fontes de vários países deram detalhes do que foi acordado.
Publicada na página do Facebook (NASDAQ:META) da autoridade de passagem da fronteira de Gaza, uma lista que supostamente mostra o primeiro lote de titulares de passaportes estrangeiros autorizados a deixar a região mostrava grupos do Japão, Áustria, Bulgária, Indonésia, Jordânia, Austrália, República Checa e Finlândia, além de funcionários de algumas organizações não governamentais (ONG) e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Uma fonte com conhecimento do acordo disse que os cidadãos de países muçulmanos teriam prioridade e os cidadãos de outros países seriam classificados por ordem alfabética.
O governo brasileiro informou, em nota oficial, que tomou conhecimento da abertura do terminal de Rafah e que "confia que em breve serão contemplados com autorização para passagem por Rafah os 34 brasileiros e familiares próximos cujos nomes foram informados desde 9 de outubro às chancelarias egípcia e israelense e às autoridades responsáveis na Faixa de Gaza".
Controlada pelo Egito, a passagem de Rafah é o principal ponto de entrada e saída para Gaza e situa-se numa região fortemente controlada por militares egípcios, que lutaram ali contra uma insurreição islâmica que atingiu o seu pico depois de 2013 e foi amplamente reprimida.
Cauteloso com a insegurança, o Egito só permite a aproximação, na passagem de Rafah, de pessoas com autorização de segurança das autoridades egípcias.
Não há expectativa de que as saídas limitadas de pessoas de Gaza evoluam para uma abertura mais longa e ilimitada da passagem.
O Egito, que junto com Israel manteve um bloqueio a Gaza desde que o Hamas assumiu o poder em 2007, rejeitou a ideia de qualquer deslocamento em massa de palestinos para a região do Sinai.
(Reportagem de Yusri Mohamed, em Ismailia; Ahmed Mohamed Hassan e Nafisa Eltahir, no Cairo; Nidal al-Mughrabi, em Gaza; e Maya Gebeily, em Beirute)