Por Eduardo Simões
(Reuters) - Os fortes temporais causados por um ciclone extratropical que chegou no início da semana ao Rio Grande do Sul provocaram a morte de pelo menos 36 pessoas no Estado e deixaram milhares de desabrigados e desalojados, conforme informações da Defesa Civil estadual nesta quarta-feira.
"É um cenário desolador, muita destruição", disse o governador Eduardo Leite (PSDB) a jornalistas após sobrevoar regiões atingidas pelo ciclone, que transformou cidades em rios. "É muito impactante. É a maior tragédia natural que se tem registro no Rio Grande do Sul."
O número de mortos pelos temporais ainda pode aumentar, conforme os trabalhos de resgate continuam.
Pela última atualização da Defesa Civil, próxima às 18h30, o desastre natural deixou 2.319 pessoas desabrigadas no Estado, e mais de 3,5 mil desalojadas.
Mais cedo nesta quarta-feira, Leite disse que o total de desaparecidos oscilava muito devido à falta de comunicação em diversos pontos do Estado.
Leite também manifestou preocupação com a previsão de mais chuvas para o Estado ainda nesta quarta e na quinta-feira.
"Agora o foco é resgatar as pessoas, há muitas famílias ainda sobre telhados de casas. Depois de ter atingido o Vale do Taquari, nos municípios de Muçum, Roca Sales, Encantado, Lajeado que foram especialmente atingidos e onde a gente teve um volume de mortes já confirmadas que é a maior já registrada em um evento climático no Estado do Rio Grande do Sul", disse Leite mais cedo em entrevista à GloboNews.
O ministro da Integração Nacional, Waldez Góes, a quem a Defesa Civil nacional está subordinada, avaliou que as mudanças climáticas se mostram como uma realidade, o que obriga as autoridades e órgãos competentes a estarem cada vez mais preparados para incidentes como este.
"A gente tem que estar muito articulado entre as esferas para responder e nos prepararmos para situações futuras... Os eventos climáticos não vão diminuir", afirmou, em entrevista após sobrevoo com o governador do Estado e o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, que é gaúcho.
Góes descreveu as imagens vistas no sobrevoo como "se fosse um cenário de guerra, destruição total" e declarou que há muito trabalho "desafiador" pela frente.
Também nesta quarta-feira, em entrevista à GloboNews, o ministro garantiu que não faltarão recursos federais ao Estado e aos municípios atingidos e que solicitou ao ministro da Defesa, José Múcio, o envio de aeronaves adicionais à região para colaborar nos trabalhos de resgate.
O número de pessoas resgatadas em todo o Rio Grande do Sul é de 1.777, de acordo com a Defesa Civil estadual.
O ministro Paulo Pimenta, presente na coletiva, afirmou que o esforço está voltado neste momento para salvar vidas. Segundo ele, foram mobilizados para tanto botes do Exército para o resgate de pessoas em áreas alagadiças onde os helicópteros não podem pousar, além dos três helicópteros mobilizados na véspera. Pimenta ainda afirmou, na rede social X, anteriormente conhecida como Twitter, que a Conab disponibilizou mais cestas básicas e uma nova carga está sendo enviada de Minas Gerais, uma vez que o estoque do RS foi esgotado.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em publicação na rede social X que conversou com Leite e colocou o governo federal à disposição dos gaúchos. Lula, que na quinta-feira participará do desfile de 7 de Setembro em Brasília e na sequência embarcará para a Índia, onde participará da reunião de cúpula do G20, disse que Múcio e o vice-presidente Geraldo Alckmin ficarão de prontidão para atender eventuais necessidades do Estado.
Em entrevista à GloboNews, Leite disse ainda ser cedo para falar sobre os trabalhos de reconstrução das áreas devastadas pelas chuvas.
"A preocupação agora é que o tempo firmou, mas a previsão para a partir do fim do dia, a partir de amanhã, quinta-feira, é voltarmos a ter chuvas aqui no Estado, que vão começar pela região sul, mas que vão atingir também a região norte, onde os corpos hídricos dessas bacias hidrográficos já estão saturados", afirmou.
"O solo já está encharcado, os rios já estão cheios, então qualquer volume de chuva que venha pela frente pode gerar novo comprometimento."
Além das vítimas no Rio Grande do Sul, uma pessoa também morreu em Santa Catarina quando uma árvore caiu sobre o carro em que estava no município de Jupiá. As rajadas de vento no Estado passaram de 110km/h em decorrência do ciclone.
De acordo com a Defesa Civil gaúcha, 79 municípios do Estado foram atingidos pelos temporais causados pelo ciclone e mais de 56 mil pessoas foram afetadas pela tragédia.
Em junho, 16 pessoas morreram no Rio Grande do Sul também em decorrência da passagem de um ciclone extratropical pelo Estado. Já no início do ano, o Estado enfrentou uma das secas mais severas de sua história, que atingiu centenas de municípios gaúchos.
(Reportagem de Eduardo Simões, em São Paulo; Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello, em Brasília, e André Romani, em São Paulo)