Por Rodrigo Viga Gaier e Anthony Boadle
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A polícia do Rio de Janeiro efetuou três prisões depois que o espancamento até a morte de um refugiado congolês, gravado por câmeras de segurança em um quiosque à beira-mar, desencadeou pedidos indignados por justiça e convocação de protestos em cidades do país.
Moise Kabagambe, de 24 anos, foi espancado a pauladas por três homens na semana passada, mostraram as imagens divulgadas pela polícia na terça-feira. Ele foi amarrado pelos agressores.
Policiais estão investigando relatos de testemunhas de que Kabagambe foi assassinado após exigir pagamento atrasado por dois dias de serviço no quiosque.
A polícia prendeu três suspeitos na terça-feira e está procurando um quarto.
O delegado Henrique Damasceno disse que o dono do quiosque ajudou a identificar os agressores ao fornecer o vídeo de segurança e não teria participado do espancamento.
"Foi uma ação desproporcional e despropositada... mesmo se verificando que, em dado momento, ao final das agressões, se busca uma tentativa de reanimar a vítima, isso não apaga a brutalidade das ações realizadas anteriormente", declarou o delegado a jornalistas.
Kabagambe chegou ao Brasil na última década como refugiado da República Democrática do Congo e estudava arquitetura, segundo sua família, que encorajou manifestações para exigir justiça.
A comunidade congolesa e grupos de defesa dos direitos dos negros convocaram um protesto para sábado no quiosque na praia da Barra da Tijuca, zona sul do Rio, juntamente com um protesto simultâneo em São Paulo.
"Nós queremos justiça. O que aconteceu foi um crime e uma vergonha. Ele cresceu aqui no Brasil, tem amigos brasileiros e não dá para acreditar que isso aconteceu", disse a jornalistas a mãe da vítima, Ivana Lay.
A entidade de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch afirmou que o assassinato violento de Kabagambe em 24 de janeiro "merece o mais absoluto repúdio da sociedade brasileira", e ocorre em um contexto de aumento da violência contra os negros no Brasil.
A embaixada da República Democrática do Congo pediu uma investigação minuciosa e afirmou que foi o quinto assassinato de um imigrante congolês no Brasil desde 2019.
O Ministério das Relações Exteriores lamentou o ocorrido e disse que "compartilha o pesar da família da vítima".
"O Itamaraty expressa sua indignação com o brutal assassinato e espera que o culpado ou culpados sejam levados à Justiça no menor prazo possível”, afirmou em nota.
O Brasil recebeu 900 refugiados congoleses desde 2016 e a maioria vive no Rio de Janeiro e em São Paulo, segundo o Ministério da Justiça, responsável pela imigração.
(Reportagem de Rodrigo Viga Gaier no Rio de Janeiro e Anthony Boadle em Brasília)