Por Sarah N. Lynch e Jonathan Stempel
WASHINGTON (Reuters) - Promotores dos Estados Unidos revelaram um indiciamento contra Donald Trump nesta sexta-feira, acusando o ex-presidente de colocar em risco alguns dos segredos de segurança mais sensíveis do país com sua retenção de documentos confidenciais que levou consigo quando deixou a Casa Branca em 2021.
O Departamento de Justiça tornou as acusações criminais públicas em um dia tumultuado no qual dois advogados de Trump renunciaram ao caso, que inclui 37 acusações contra Trump. Um ex-assessor, Walt Nauta, também enfrenta acusações no caso.
A primeira aparição de Trump na corte está prevista para terça-feira em um tribunal em Miami, um dia antes de seu 77º aniversário. Como Trump cumpriria qualquer sentença simultaneamente se fosse condenado, o tempo máximo de prisão que ele enfrenta é de 20 anos por obstrução da justiça, que acarreta a pena mais alta.
O procurador especial Jack Smith, que lidera a acusação, disse em um breve comunicado: "Nossas leis que protegem as informações de defesa nacional são críticas para a segurança dos Estados Unidos e devem ser aplicadas".
"Temos um conjunto de leis neste país e elas se aplicam a todos."
Ele disse que, como acontece com qualquer réu, os acusados são considerados inocentes até que se prove o contrário e ele prometeu buscar um julgamento rápido perante um júri de cidadãos da Flórida.
De acordo com o indiciamento, os documentos incluem alguns dos segredos militares mais sensíveis dos Estados Unidos, incluindo informações sobre o programa nuclear norte-americano e potenciais vulnerabilidades domésticas em caso de ataque.
Os investigadores apreenderam cerca de 13.000 documentos na propriedade de Trump em Mar-a-Lago em Palm Beach, no Estado da Flórida, quase um ano atrás. Cem foram marcados como confidenciais, embora um dos advogados de Trump tenha dito anteriormente que todos os registros com marcas sigilosas tinham sido devolvidos ao governo.
Os procuradores dizem que Trump conspirou com Nauta para manter em segredo os documentos confidenciais que havia levado consigo da Casa Branca e escondê-los de um grande júri federal. Nauta, que trabalhou para Trump na Casa Branca e em Mar-a-Lago, enfrenta seis acusações no caso.
O indiciamento de um ex-presidente dos EUA por acusações federais é algo sem precedentes na história norte-americana e ocorre quando Trump também é o favorito para a indicação à candidatura presidencial republicana no ano que vem.
"SOU UM HOMEM INOCENTE!"
"EU SOU UM HOMEM INOCENTE!", escreveu Trump em sua plataforma Truth Social na quinta-feira, depois de anunciar que havia sido indiciado.
Trump disse anteriormente que retirou a confidencialidade desses documentos enquanto presidente, mas seus advogados se recusaram apresentar esse argumento nos processos judiciais.
A juíza distrital Aileen Cannon foi inicialmente designada para supervisionar o caso, disse uma fonte com conhecimento do assunto nesta sexta-feira. Ela pode presidir o julgamento também, segundo a fonte, que falou sob condição de anonimato.
Cannon, nomeada por Trump em 2019, tomou decisões que o favoreceram em embates jurídicos durante a investigação de documentos no ano passado. As decisões dela foram anuladas em recurso.
É o segundo caso criminal de Trump, que deve ser julgado em Nova York em março em uma ação estadual decorrente de um suborno a uma estrela pornô.
Em uma publicação anterior, Trump disse que seria representado no caso pelo advogado de defesa Todd Blanche, que o representa em um processo criminal separado em Manhattan.
Trump fez o anúncio após seus advogados John Rowley e Jim Trusty desistirem do caso por razões que não ficaram imediatamente claras.
Trump é o primeiro atual ou ex-presidente dos EUA a enfrentar acusações criminais.
POPULAR ENTRE OS REPUBLICANOS
Os problemas jurídicos de Trump não prejudicaram sua popularidade entre os eleitores republicanos, de acordo com pesquisa Reuters/Ipsos. Até agora, seus principais rivais republicanos se alinharam a ele para criticar o caso como politicamente motivado.
Trump atuou como presidente de 2017 a 2021 e até agora conseguiu enfrentar controvérsias que poderiam arruinar outros políticos. Ele se descreve como vítima de uma caça às bruxas e acusa o Departamento de Justiça de parcialidade partidária.