BRASÍLIA (Reuters) - Mauro Cesar Barbosa Cid, ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, recebeu de seu aliado Ailton Barros em dezembro passado uma espécie de rota de ações para promover um golpe de Estado, conforme transcrição de mensagens de áudio em poder da Polícia Federal que foram reveladas pela CNN Brasil nesta quinta-feira.
A reportagem da CNN Brasil diz que não foi possível saber o que Mauro Cid, braço-direito de Bolsonaro, respondeu às mensagens.
Mauro Cid e Barros foram presos preventivamente nesta quarta-feira em operação da PF determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal(STF) Alexandre de Moraes para apurar a falsificação dos cartões de vacina contra Covid-19 do ex-presidente e de pessoas próximas dele.
Na decisão que ordenou a operação da PF, Moraes citou que constava da investigação "tratativas para execução de um golpe de Estado e possível tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito envolvendo o investigado Ailton (Barros)" e outras pessoas ainda não identificadas.
A transcrição de três áudios de Barros, que constavam do celular de Mauro Cid, foram feitas pela PF, conforme a CNN Brasil. Eles foram enviados no dia 15 de dezembro, três dias após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) diplomar Luiz Inácio Lula da Silva presidente eleito. O petista só assumiu no dia 1º de janeiro.
No áudio transcrito, Barros disse que teria que pressionar o então comandante do Exército, Marco Antonio Freire Gomes, para que "ele faça o que tem que fazer".
“Até amanhã à tarde, ele aderindo… bem, ele faça um pronunciamento, então, se posicionando dessa maneira, para defesa do povo brasileiro. E, se ele não aderir, quem tem que fazer esse pronunciamento é o Bolsonaro, para levantar a moral da tropa. Que você viu, né? Eu não preciso falar. Está abalada em todo o Brasil”, afirmou.
O aliado ressaltou que tanto o comandante do Exército quanto o então presidente teriam de realizar o pronunciamento que teria de ser "tudo dentro das quatro linhas”. Ele disse que o lado deles tem "a caneta e a força", chegando até a sugerir uma operação ilegal que levaria à prisão de Moraes, que preside o TSE desde as eleições.
Barros afirmou ainda que uma das ideias seria que na segunda-feira, 19 de dezembro, fosse decretado o chamado GLO (Lei da Garantia e da Ordem) para a atuação das Forças Armadas, citando que o comandante supremo deles é o presidente da República.
A Reuters pediu comentário da defesa do ex-presidente, mas ainda não teve resposta, assim como não conseguiu contato imediato com os demais citados na reportagem. Bolsonaro tem dito que não se vacinou contra covid-19 e que não fraudou nem solicitou fraude em sua carteira de imunização.
(Reportagem de Ricardo Brito)