Por Catarina Demony
LISBOA (Reuters) - O Brasil deve resolver os problemas que levaram aos ataques às sedes dos Três Poderes por vândalos bolsonaristas radicais no dia 8 de janeiro, incluindo a "politização" da polícia e o papel das mídias sociais, mas, por enquanto, a vida continua como de costume, disse nesta sexta-feira o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Falando aos repórteres à margem de uma conferência de negócios em Lisboa, organizada pelo Lide, grupo fundado pelo ex-governador de São Paulo João Doria, Mendes disse que os problemas se "acumularam" durante os quatro anos do governo Bolsonaro, período em que, segundo o ministro, o Brasil foi governado por pessoas "do porão".
Bolsonaristas radicais defensores de um golpe de Estado invadiram e depredaram o Palácio do Planalto e os prédios do Congresso Nacional e do STF em 8 de janeiro, após Bolsonaro, que nunca reconheceu a derrota eleitoral para Lula, deixar o país dias antes do fim de seu mandato rumo aos Estados para não passar a faixa presidencial na posse de seu sucessor, que ocorreu em 1º de janeiro.
"Essas discussões se seguem sobre o que o país tem de fazer para evitar que isso volta a ocorrer. Há os problemas todos que se acumularam durante esses últimos quatro anos. É um debate que se está fazendo sobre o papel desses grupos radicais, o que é preciso de fazer, os seguimentos de policiais que se envolveram, os seguimentos de segurança, o que é preciso fazer na área da internet, das redes sociais", disse Mendes a jornalistas.
"A gente estava sendo governado por uma gente do porão. Isto é um dado da realidade. Pessoas da milícia do Rio de Janeiro com protagonismo na política nacional, é isso que resulta quando nós vemos a nominata desses personagens", afirmou.
Lula disse que a Polícia Militar do Distrito Federal e integrantes do Exército responsáveis pela segurança do Palácio do Planalto não fizeram o suficiente para impedir o avanço dos vândalos em 8 de janeiro. O STF lidera a investigação criminal para os atos golpistas.
Mendes disse que é importante discutir reformas no setor de segurança para enfrentar o que ele descreveu como a "politização" da polícia. Ele disse que havia problemas com as Forças Armadas também.
O ministro também disse que é crucial abordar o papel desempenhado pelas plataformas de mídia social.
O Facebook (NASDAQ:META), da Meta, e o YouTube, do Google (NASDAQ:GOOGL), disseram ter removido de suas plataformas conteúdo que apoiava e elogiava os atos golpistas.
"É uma reflexão responsável que tem de ocorrer, mas é um quadro de normalidade. O país prossegue. Vocês veem que a bolsa continua subindo, o dólar está sob controle, a vida segue normalmente. O Congresso funcionando, a vitalidade da democracia, boas respostas da Câmara e do Senado", disse o ministro.
"Acho que a democracia mostrou mais uma vez a sua resiliência."