RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A Petrobras afirmou nesta quarta-feira que vem promovendo mudanças em seu quadro gerencial, e que não realizou demissão por conta suspeitas de atos ilícitos em contratações de obras em refinarias, conforme disse uma fonte à Reuters.
Segundo a Petrobras, as "mudanças" ocorrem em função dos resultados de comissões internas de apuração que apontaram "o não cumprimento de procedimentos normativos internos".
"É importante ressaltar que não houve demissões da companhia, já que não há evidência até o momento de dolo, má fé ou recebimento de benefícios por parte desses empregados citados nos relatórios das comissões internas de apuração", disse a empresa em nota.
Segundo a Petrobras, as funções gerenciais não são permanentes, sendo portanto de livre nomeação a qualquer momento por parte da Petrobras.
Mais cedo, uma fonte próxima às apurações da Petrobras disse à Reuters que a estatal demitiu um funcionário ligado à Diretoria de Engenharia, Tecnologia e Materiais após a identificação de cerca de 15 empregados suspeitos de irregularidades.
A exoneração ocorreu como resultado de investigação de uma comissão interna da estatal que identificou supostos desvios de recursos em contratos com empreiteiras ligadas às obras da Refinaria do Nordeste (Rnest), em Pernambuco, e do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), segundo a fonte, que preferiu não ser identificada.
Alguns suspeitos estariam ligados ao funcionário demitido e também estariam próximos de ser exonerados, segundo a fonte.
"Não é suspeita de irregularidade, é um passo além, eles já estão objetivamente na comissão como responsáveis", afirmou a fonte.
A demissão ocorreu enquanto a Polícia Federal toma depoimentos de executivos de empreiteiras presos na última sexta-feira, no âmbito da Operação Lava Jato, no mesmo dia da detenção de Renato Duque, ex-diretor de Engenharia da Petrobras.
Deflagrada em março de 2014, a Lava Jato foi lançada inicialmente para investigar um esquema de lavagem de dinheiro em vários Estados, que seria comandado pelo doleiro Alberto Youssef.
Dias após a prisão de Youssef, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa foi preso por suspeita de destruir documentos.
Costa e Youssef firmaram acordos de delação premiada com a Justiça e os depoimentos dados por ambos levaram a uma nova fase da operação, em que foram presos Duque e os executivos das empreiteiras.
Em depoimento, Costa disse que empreiteiras formaram cartel para realizar as obras da Petrobras e que cobravam um sobrepreço da estatal.
Parte dos recursos arrecadados, segundo Costa, seriam repassados a partidos políticos como PT, PP e PMDB. Outra parcela ficaria com os diretores envolvidos e com operadores que repassavam os recursos, entre eles Youssef.
Na terça-feira, a Justiça decidiu manter Duque preso além de outros cinco detidos operação, autorizando ainda a libertação de 11 detidos.
A defesa de Duque diz que a prisão é injustificada e desproporcional e nega que ele tenha participado de práticas criminosas.
(Por Rodrigo Viga e Marta Nogueira no Rio de Janeiro e Roberto Samora em São Paulo)