Investing.com – O Federal Reserve (Fed) e o Banco Central Europeu (BCE) não realizarão mais de dois ou três cortes de juros este ano, segundo o economista-chefe da Amchor IS, Álvaro Sanmartín. Ele baseia sua projeção em vários fatores, começando pela situação dos Estados Unidos.
EUA: crescimento robusto e desemprego mínimo
Sanmartín argumenta que o Fed não terá espaço para reduzir muito os juros em 2024, pois a economia americana segue em ritmo forte, o que indica que a política monetária não é tão apertada quanto parece. Além disso, o baixo nível de desemprego aumenta o risco de uma retomada da inflação, caso a demanda continue aquecida.
Outro ponto levantado pelo economista é que uma eventual alta da inflação poderia desestabilizar as expectativas de preços dos agentes econômicos. Ele também afirma que não é correto dizer que a queda da inflação nos últimos meses implica em taxas reais mais altas e, consequentemente, em uma política monetária mais restritiva.
"Na verdade, como as expectativas de inflação de médio e longo prazo permaneceram estáveis, as taxas reais 'ex ante' (calculadas como a taxa nominal menos a inflação esperada) não estão seguindo o mesmo comportamento das taxas 'ex post' (calculadas com base na inflação passada)", explica.
Sanmartín lembra ainda que as condições financeiras também dependem de outras variáveis, como o prêmio de risco das ações ou os spreads de crédito. "Considerando esses outros elementos, nos últimos meses, houve um relaxamento significativo das condições financeiras", acrescenta.
Além disso, o analista destaca que não se deve ignorar que os preços dos serviços ainda estão fortes e que a queda da inflação subjacente nos últimos meses se deve principalmente à deflação dos bens, o que pode não se manter no futuro. "Assim, mesmo que a produtividade tenha acelerado em 2023, os salários continuam a crescer de forma dinâmica", conclui.
Zona do euro pronta para a recuperação econômica
A Amchor IS prevê uma retomada do crescimento econômico na zona do euro este ano, apoiada por vários fatores.
Sanmartín explica que os gastos privados terão um impulso significativo, com salários crescendo acima da inflação, desemprego em níveis baixos históricos e situação financeira saudável das famílias. Além disso, o fim do ajuste dos estoques na indústria pode beneficiar um setor que esteve em baixa em 2023.
Do lado da política econômica, as taxas de juros reais seguem moderadas e não devem atrapalhar o desenvolvimento econômico da Eurozona este ano. O economista também acredita que o BCE não fará mais do que dois ou três cortes de juros em 2024, diante de um cenário de crescimento saudável, salários dinâmicos e inflação em queda gradual.
Mercados asiáticos com perspectivas positivas
Sanmartín também analisa o resto do mundo, destacando as perspectivas positivas de muitas economias emergentes, especialmente na Ásia, que voltam a crescer acima da média do mundo desenvolvido, com estabilidade macroeconômica.
Sobre a China, ele afirma que não descarta uma surpresa positiva este ano, por várias razões. As autoridades monetárias e fiscais estão mais ativas do que em 2023, o setor imobiliário está em ajuste, mas não deve se contrair tanto quanto no ano passado. Além disso, o ajuste dos estoques pode ter terminado e a tensão geopolítica com os Estados Unidos parece ter diminuído. Por fim, os dados macroeconômicos mais recentes, embora não sejam empolgantes, apontam na direção certa.
Por último, o Japão, onde a economia "continua a oferecer o contexto adequado para que o BoJ possa avançar com o processo de normalização da política monetária na primeira parte do ano. O crescimento permanece acima do potencial, o desemprego é muito baixo, as expectativas de inflação aumentaram de forma sustentável, a inflação excluindo energia e alimentos está há muito tempo acima da meta de 2%". Na verdade, para o especialista, "o único fator que falta ao BoJ para se sentir confortável o suficiente para começar a reduzir o grau de expansão monetária é que os salários cresçam acima da inflação, o que pode ocorrer após as negociações entre sindicatos e empregadores de março-abril"