Governo reforma setor de mineração com aumento de royalties; mineradoras protestam

Publicado 25.07.2017, 20:29
© Reuters. Temer fala durante cerimônia sobre reforma da mineração em Brasília

Por Leonardo Goy

BRASÍLIA (Reuters) - O governo federal anunciou nesta terça-feira medidas para uma ampla reforma do setor de mineração, que visa a revitalização da indústria mineral brasileira, incluindo a possibilidade do aumento do royalty cobrado do minério de ferro, o que causou protesto das mineradoras que atuam no país.

O presidente Michel Temer, que luta para reduzir déficit orçamentário, em meio a uma recuperação lenta da pior recessão do país, assinou três Medidas Provisórias (MPs) que irão pautar a reforma regulatória do setor.

Em uma das medidas, o governo prevê elevar a partir de novembro a alíquota do royalty cobrado do minério de ferro, que irá subir dos atuais 2 por cento para até um limite de 4 por cento, variando de acordo com o preço internacional do insumo.

As alíquotas do minério de ferro vão variar entre um piso de 2 por cento, quando a tonelada estiver abaixo dos 60 dólares no mercado internacional, até o teto de 4 por cento, quando a cotação da tonelada superar os 100 dólares, segundo o Ministério de Minas e Energia.

Entre o piso e o teto, o governo colocou alíquotas intermediárias: de 2,5 por cento, quando a tonelada estiver entre 60 e 70 dólares; de 3 por cento (70 a 80 dólares) e 3,5 por cento (de 80 a 100 dólares).

A alíquota da chamada Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem) também vai mudar para o nióbio, passando de 2 para 3 por cento, do ouro (de 1 por cento para 2 por cento) e do diamante (de 2 para 3 por cento).

Por outro lado, o governo anunciou uma redução de 2 por cento para 1,5 por cento na alíquota cobrada de minerais de uso imediato na construção civil.

O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, afirmou que as mudanças deverão elevar em cerca de 80 por cento a arrecadação da Cfem. No ano passado, disse ele, a mineração pagou cerca de 1,6 bilhão em royalties.

Entretanto, defendeu a necessidade da alteração do cálculo.

"Se pegar uma comparação com outros países, o Brasil estava defasado no percentual que cobrava", disse o ministro, na solenidade de anúncio das novas medidas para o setor.

Além da mudança nas alíquotas, a Cfem também passará a incidir sobre o faturamento bruto, e não mais sobre o líquido.

Segundo o secretário de Geologia e Mineração do Ministério de Minas e Energia, Vicente Lôbo, a diferença fundamental é que o faturamento bruto leva em conta também os custos de logística das mineradoras.

PROTESTO DE MINERADORAS

As mineradoras que atuam no Brasil consideraram o aumento dos royalties da mineração inadequados para o momento atual da economia do país e afirmaram em nota que deverão repassar a nova elevação dos custos à cadeia produtiva industrial.

"Este efeito cascata inflacionário poderá atingir também o atacado e o varejo e, por consequência, os consumidores. Isso porque quase tudo o que é consumido tem minérios em sua composição ao longo da cadeia produtiva", disse o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), porta-voz das mineradoras.

O instituto também afirmou temer pela perda de competitividade.

"O Brasil é um dos principais exportadores de minério... O aumento do royalty, portanto, torna os nossos produtos menos competitivos no mercado internacional e geram menos receitas, ou divisas, para o país", disse o Ibram, em uma nota.

DEMAIS MEDIDAS

Além da mudança nos royalties, as duas demais MPs tratam da criação de uma agência reguladora para o setor e de uma reformulação do código de mineração, cujas regras estão em vigor desde a década de 1960.

A nova autarquia se chamará Agência Nacional de Mineração (ANM) e irá substituir o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).

"Este era o único setor do Ministério de Minas e Energia que não tinha agência. Hoje, com a criação da agência estamos dando para a mineração uma agência de Estado para dialogar e dar a segurança jurídica necessária", disse o ministro Coelho Filho.

Já o código de mineração passará por 23 ajustes, que segundo o governo visam aumentar a atividade no setor. A ideia é elevar a participação da mineração dos atuais 4 por cento para 6 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).

Entre as medidas previstas está a ampliação do prazo para a realização de pesquisas, que atualmente é de um a três anos, e passará a ser de dois a quatro anos, prorrogável uma única vez.

Com o intuito de acabar com as filas para a obtenção de direitos de prioridade para pesquisas, o governo afirmou que "qualquer fase ou exigência" não cumprida pode tornar as áreas disponíveis para leilão eletrônico.

Outra mudança refere-se aos impactos ambientais do setor, com a previsão expressa da responsabilidade do minerador pela recuperação de áreas degradadas.

"Tornamos clara e precisa a responsabilidade das empresas pela recuperação de áreas afetadas", disse Michel Temer, também na solenidade de anúncio das medidas.

© Reuters. Temer fala durante cerimônia sobre reforma da mineração em Brasília

Apesar de as novas alíquotas só entrarem em vigor em novembro, as MPs tem eficácia imediata. Entretanto, conforme o previsto, ainda estão sujeitas a aprovação do Congresso.

(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu)

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