Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O governo federal prometeu uma moratória no pagamento dos financiamentos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) às empresas de bens de capital para que elas possam melhorar sua situação financeira antes de retomarem os pagamentos, informou nesta terça-feira um representante do setor.
"Tem sido difícil honrar esses pagamentos. Fizemos esse pedido e estamos há meio ano falando em uma trégua nos financiamentos. Podemos ter uma trégua de meio ano, um ano, na interrupção dos pagamentos", disse César Prata, vice-presidente da Câmara Setorial de Equipamentos Navais da associação que representa a indústria de máquinas e equipamentos do país, Abimaq.
Ele fez o comentário após encontro entre entidades empresariais, sindicatos e a presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, em que foi entregue um plano de sete pontos para retomar o crescimento econômico do país.
"Conseguimos a concessão do governo para que então esse tipo de trégua nos seja concedida."
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) confirmou que o governo abriu a possibilidade de conceder uma moratória, mas ressaltou que os detalhes ainda estão sendo definidos.
Entre os detalhes está o prazo da moratória. Os empresários pediram um ano de suspensão dos pagamentos, o governo pensa em seis meses, disse Prata.
Os empresários reconheceram que os juros dos empréstimos do BNDES são bastante baixos e, em troca da moratória, ofereceram aceitar juros maiores na retomada dos pagamentos.
"Voltaríamos com juros mais realistas, de acordo com que se pratica no mercado, o que também seria bom para o governo", disse Prata.
Procurado, o BNDES declarou que o pleito da Abimaq não foi feito ao banco de fomento, mas diretamente ao governo federal, e se refere ao Programa Sustentação do Investimento (PSI), criado em 2009 para estimular a produção, aquisição e exportação de bens de capital e a inovação.
De janeiro a outubro deste ano, o PSI somou desembolsos de 26,6 bilhões de reais, sendo que a área de máquinas e equipamentos excluindo ônibus, caminhões e tratores teve financiamentos de 10,6 bilhões de reais, informou o BNDES.
Entre os sete pontos para incentivar o crescimento, sindicalistas e empresários sugeriram ampliar o financiamento de capital de giro para as empresas, políticas de fortalecimento para o mercado interno e aceleração do projeto que prevê o acordo de leniência para empresas envolvidas em escândalos de corrupção.
De acordo com Miguel Torres, da Força Sindical, o acordo é urgente para destravar o setor de construção, independentemente da punição aos empresários envolvidos. Os trabalhadores chegaram a pedir que o governo editasse uma medida provisória sobre o tema, deixando de fora as questões criminais.
O ministro do Trabalho e Previdência, Miguel Rosseto, afirmou que a presidente ouviu a demanda e pediu ao ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, que tentasse dar urgência à tramitação do projeto, que já foi aprovado no Senado.
"Aparentemente já há acordo na Câmara. Jaques está tratando disso. Vamos fazer todo esforço para agilizar essa adoção de um novo marco legal", afirmou Rosseto. Não houve, no entanto, promessa de uma MP.
O grupo se reunirá mais uma vez na próxima sexta-feira com a presidente para tratar das propostas apresentadas nesta terça-feira.
IMPEACHMENT
Ao contrário da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que manifestou na véspera apoio ao processo de impeachment contra a presidente Dilma, os empresários presentes no encontro disseram que não pretendem fazer defesa de posições políticas e que querem trabalhar com o governo federal para superar a crise.
"Eu entendo e compreendo a posição da Fiesp, mas a Anfavea é uma entidade nacional que pensa o Brasil. Eu volto a dizer que as questões políticas estão corroendo a economia brasileira e têm que ser resolvidas o mais rapidamente possível. O governo federal não pode se sentir acuado", disse Luiz Moan, presidente da associação que reúne os fabricantes de veículos, Anfavea.
"As associações representativas na nossa opinião jamais devem ser manifestar partidariamente. Não somos instituições políticas. Empresários devem se comportar como empresários", disse Prata, da Abimaq.
(Com reportagem adicional de Luciana Bruno, em São Paulo)