SÃO PAULO (Reuters) - Um protesto com cerca de 200 indígenas da etnia Munduruku paralisa desde a madrugada de domingo as obras da hidrelétrica São Manoel, entre o Mato Grosso e o Pará, disseram à Reuters nesta segunda-feira lideranças da manifestação.
A pauta de reivindicações do grupo para deixar o canteiro de obras inclui a demarcação e homologação de uma terra indígena e a retomada de urnas funerárias consideradas sagradas pelos índios e que teriam desaparecido em meio à construção da usina.
Orçada em mais de 3 bilhões de reais, São Manoel tem como acionistas Furnas, da Eletrobras (SA:ELET3), a portuguesa EDP (SA:ENBR3) Energias do Brasil e a chinesa Three Gorges. A usina precisa entrar em operação em janeiro de 2018, mas as empresas preveem antecipar esse cronograma para outubro deste ano.
"A obra está totalmente parada... a gente vai permanecer aqui enquanto nossas reivindicações não forem atendidas", disse à Reuters Valdenir Munduruku, um dos líderes do movimento que ocupou o empreendimento.
Ele disse que o grupo exige também a presença de executivos das empresas responsáveis pela hidrelétrica e de autoridades para negociar, como os presidentes do órgão ambiental Ibama e da Fundação Nacional do Índio (Funai) e o ministro da Justiça, além de representantes das pastas de Meio Ambiente e Minas e Energia.
Valdenir contou também que os indígenas no local receberam um aviso de que o grupo de empresas responsável por São Manoel entrou na Justiça com um pedido de reintegração de posse da área.
"A gente sabe que a empresa entrou com pedido... mas a gente está aqui e não é isso que vai nos intimidar, vamos continuar firme na luta para que nossos direitos sejam respeitados e atendidos", afirmou.
A área que os índios querem ver demarcada corresponde à Terra Indígena Sawré Muybu, com 178.173 hectares, uma área de ocupação tradicional do povo Munduruku. A Funai concluiu em abril de 2016 os estudos de identificação e delimitação da região, nos municípios de Itaituba e Trairão, Pará, segundo informação do site da fundação.
O movimento dos indígenas tem sido apoiado pelo grupo Fórum Teles Pires, que reúne diversos grupos de ativistas contrários à construção de hidrelétricas na região do rio Teles Pires.
Procurada, a Eletrobras disse que não vai comentar. EDP Brasil e China Three Gorges não responderam imediatamente a pedidos de comentário.
(Por Luciano Costa)