Por Jan Strupczewski e Matthias Sobolewski
BRUXELAS/BERLIM (Reuters) - A Grécia conseguiu obter quatro meses de prorrogação de seu resgate financeiro nesta terça-feira, com a aprovação por seus parceiros na zona do euro de um plano de reforma que recuou em medidas de inclinação esquerdista, e prometeu que os gastos para aliviar o estresse social não irão desencaminhar seu orçamento.
Os ministros das Finanças selaram a decisão em uma teleconferência de uma hora conduzida pelo líder do chamado Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, depois que o novo governo esquerdista de Atenas lhe enviou uma lista detalhada das reformas que planeja implementar até julho.
"Após a decisão tomada na teleconferência do Eurogrupo, os procedimentos nacionais para a prorrogação do programa grego podem começar", disse Valdis Dombrovskis, vice-presidente para o euro da Comissão Europeia, pelo Twitter.
Os ministros analisaram o documento de seis páginas enviado pelo ministro das Finanças grego, o marxista Yanis Varoufakis, que diluiu promessas de campanha como deter privatizações, fortalecer os gastos com o bem-estar social e aumentar o salário mínimo, prometendo consultar os parceiros antes de adotar reformas cruciais e não permitir que estas afetem o orçamento.
Tanto a Comissão Europeia quanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) consideraram a carta "suficientemente abrangente para funcionar como um ponto de partida válido para a conclusão bem-sucedida da análise".
Em um comunicado, as 19 nações do Eurogrupo exortaram a Grécia a desenvolver e ampliar a lista de medidas de reforma, baseando-se no "arranjo atual" – um eufemismo para o resgate financeiro que o primeiro-ministro grego, o esquerdista Alexis Tsipras, havia prometido descartar.
Como sinal das negociações duras pela frente, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse que o plano de reforma "não é muito específico" e que garantias muito mais explícitas serão necessárias em reformas essenciais como aposentadorias, taxação e privatizações.
Lagarde disse que o plano de reforma da Grécia é suficiente para continuar com o programa de ajuda ao país, mas faltam detalhes necessários.
"Em algumas áreas como o combate à evasão fiscal e à corrupção me sinto encorajada pelo que parece ser uma determinação mais forte da parte das novas autoridades em Atenas", escreveu a chefe do FMI.
"Em um certo número de áreas, no entanto, incluindo talvez as mais importantes, a carta não transmite garantias claras de que o governo pretende adotar as reformas vislumbradas", afirmou.
O ministro das Finanças eslovaco, Peter Kazimir, refletindo o profundo ceticismo entre os conservadores fiscais do norte europeu, declarou: "Os gregos têm que levantar muito peso até o final de abril. Todos queremos ver os números agora."
Os mercados financeiros se animaram mesmo antes da confirmação da extensão do programa de resgate de 240 bilhões de euros da União Europeia e do FMI, poupando a Grécia por hora de um colapso bancário iminente, da falência estatal e de uma possível saída tumultuada da zona do euro.
O futuro financeiro do país no longo prazo continua incerto, e Dijsselbloem afirmou ao parlamento europeu que o membro mais endividado da zona do euro, já resgatado duas vezes desde 2010, provavelmente precisará de um novo socorro.
A carta grega prometeu não reverter privatizações em andamento ou concluídas e garantir que o combate ao que o governo chama de crise humanitária causada pela austeridade "não tenha efeitos fiscais negativos".
O documento de seis páginas, visto pela Reuters, contém poucas cifras, mas prometeu aprimorar a cobrança de impostos, a luta contra a corrupção e "analisar e controlar os gastos em cada área de despesa governamental".
(Reportagem adicional de Deepa Babington em Atenas, Adrian Croft em Bruxelas, Erik Kirschbaum em Berlim, John Geddie em Londres e Aija Krutaine em Riga)