Por Jeferson Ribeiro
BRASÍLIA (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff (PT) deu o tom de como será sua campanha contra o tucano Aécio Neves no segundo turno da eleição presidencial, ao afirmar que os brasileiros "não querem voltar aos fantasmas do passado", em um discurso repleto de ataques ao governo do PSDB de 1995 a 2002.
"(Temos) ideias novas para a economia, controlando ainda mais a inflação, mas sem produzir os chamados ajustes e as medidas impopulares, o arrocho salarial e o desemprego que nós tivemos nos governos do PSDB", disse a presidente.
Dilma, que tenta a reeleição, discursou por mais de 20 minutos após o resultado da votação de domingo colocar ela e Aécio no segundo turno.
A petista reafirmou ter entendido o desejo de mudança expresso nas manifestações populares do ano passado e disse que, se reeleita, vai fazer "um segundo governo muito melhor do que o primeiro".
Boa parte do tempo de seu pronunciamento, contudo, foi usada para centrar fogo nos tucanos.
"O povo brasileiro acaba de dizer, e temos certeza que vai dizer outra vez no dia 26 de outubro, que não quer os fantasmas do passado de volta, como a inflação, o arrocho e o desemprego... Teremos novamente uma disputa com o PSDB, que governou apenas para um terço da população, abandonando os que mais precisam", atacou Dilma.
"O povo brasileiro não quer de volta aqueles que trouxeram o racionamento de energia", prosseguiu a petista. "O povo brasileiro não quer... uma inserção internacional subordinada, que se ajoelhava diante do FMI", disparou.
Dilma teve 41,6 por cento dos votos válidos, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Foi o pior desempenho do PT para um primeiro turno desde a eleição de 1998 e o resultado mostrou uma liderança mais apertada do que esperavam os petistas. Aécio ficou com quase 33,6 por cento dos votos válidos.
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que a votação de Dilma ficou dentro do esperado, mas que a força do tucano surpreendeu. "Esperávamos uma votação menor do Aécio", disse ele.
Um resultado que assustou uma fonte petista próxima ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o do Estado de São Paulo. Aécio teve quase 10,2 milhões de votos no maior colégio eleitoral do Brasil, contra os 5,9 milhões de Dilma.
CAMPANHA DE ATAQUES
O pronunciamento de Dilma indicou que o PT usará contra Aécio os ataques duros que no primeiro turno golpearam Marina Silva (PSB). A ex-senadora e ambientalista chegou a representar uma ameaça real à presidente até que a candidatura de Marina perdesse fôlego na reta final da campanha.
O ex-ministro do Desenvolvimento Agrário Miguel Rossetto, um dos coordenadores da campanha petista, disse que o partido manterá a estratégia do primeiro turno na propaganda eleitoral, mas negou que seja uma postura de ataques.
"Vamos manter uma estratégia de afirmar a nossa história e nossas conquistas", disse ele. "Por três vezes, o povo brasileiro, confrontado com essa disputa de projetos, elegeu Dilma e elegeu Lula. Pela quarta vez, tenho absoluta convicção que irá reeleger um projeto vitorioso que dá certo para o país", acrescentou.
Apesar da confiança de Rossetto, outros integrantes da campanha e aliados esperam uma disputa muito difícil pela reeleição.
Uma fonte da campanha de Dilma que falou sob condição de anonimato disse à Reuters que a presidente terá muito trabalho para conseguir aumentar suas alianças nos Estados e ampliar a vantagem no segundo turno.
A fonte citou o Rio Grande do Sul e o Ceará, onde PT e PMDB se enfrentam no segundo turno, o que tornará a relação com o maior aliado dos petistas ainda mais difícil, e o Rio de Janeiro, onde os peemedebistas têm alianças informais com Aécio.
BUSCA DE APOIO
Uma reunião com os partidos aliados e governadores aliados eleitos no primeiro turno está agendada para terça-feira, com objetivo de fechar uma estratégia do PT para o segundo turno.
Rossetto disse que os petistas devem procurar ainda nesta semana o PSB e outros partidos, além de movimentos sindicais e sociais, para um acordo no segundo turno.
No discurso, sem citar Marina, a presidente também abriu as portas para novos acordos políticos. "Estamos abertos a receber todos aqueles que quiserem nos apoiar de braços abertos", disse Dilma.