Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - A possibilidade de um acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia ser fechado até dezembro, como queriam os europeus, se tornou mais remota depois da rodada de negociações encerrada nesta sexta-feira, em Brasília, ter terminado com mais frustrações que avanços.
Na esteira de uma oferta da União Europeia para cotas de carne e etanol considerada frustrante pelos negociadores do Mercosul, as conversas sobre acesso a mercados --ponto central do acordo-- terminaram sem qualquer avanço.
"A possibilidade de anunciar um acordo em Buenos Aires (em dezembro), como se falava ficou mais remota que no início da semana", disse uma fonte que acompanha as negociações. "Eu não tenho parâmetros para falar de uma melhora de ofertas."
Em maio de 2016, quando foram apresentadas as ofertas para acesso a mercados, os europeus deixaram de fora etanol e carne bovina, dois setores centrais para o Mercosul, alegando que não havia condições políticas de fazer isso naquele momento.
As cotas apresentadas agora, de 70 mil toneladas de carne e 600 mil toneladas de etanol, foram inferiores as de 2004, de 100 mil de carne e 1 milhão de etanol. Na retomada das negociações, em 2010, o parâmetro básico era de que todas as propostas precisariam ser maiores que as de 2004.
Apesar de se esperar que as ofertas iniciais sejam conservadoras, já que ninguém apresentada suas melhores cartadas desde o início, os números muito abaixo do esperado emperraram o avanço, disse a fonte.
"A grande expectativa para essa rodada veio abaixo. A expectativa era de que esses números permitissem avançar, o que não aconteceu", explicou.
Mesmo reconhecendo que em outras áreas, como concorrência, cooperação aduaneira, facilitação de comércio, o acordo avançou muito, acesso a mercados continua como estava em maio de 2016. "Acesso a mercado é determinante. Sem acesso a mercado o resto todo é inútil", disse a fonte.
Ao avaliar que não seria possível iniciar as negociações efetivas na área, o Mercosul propôs o que os diplomatas chamam de uma metodologia de melhoria das ofertas para a nova rodada, marcada para o início de novembro. São parâmetros de quanto cada parte da oferta tem que melhorar para que se possa partir de uma base similar nos dois lados.
Apesar da sexta-feira gasta em conversas sobre isso, os europeus não aceitaram nenhuma das propostas, ainda que não tenham negado diretamente.
"O que eu preciso agora é uma instrução para eu ir para etapa final, mas eu não tenho parâmetros para uma oferta melhorada", disse a fonte. "Em novembro, se não tiver entendimento sobre essa metodologia, o resto pode continuar, mas atrasa mais uma vez a possibilidade de fechar (acordo para) acesso a mercados."
COMO AVANÇAR
Do lado do Mercosul, a avaliação é que cabe agora aos europeus aceitar os parâmetros da oferta sul-americana ou fazer uma nova proposta nas próximas semanas, ou se chegará em novembro exatamente na mesma posição que se está agora.
No setor privado, a frustração com a falta de avanços nessa rodada foi grande, e não apenas no setor agrícola. Na área industrial também se esperava que a oferta de etanol e carne fosse o suficiente para que as conversas andassem.
"Esperava-se que a oferta destravasse as conversas para os outros bens. Dessa forma o cronograma também continua congelado para bens industriais", disse à Reuters o gerente de Negociações Internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Fabrizio Panzini.
O setor industrial, que pode passar a enfrentar uma dura concorrência de produtos europeus, tem defendido com veemência o acordo com a UE. Em um café da manhã com os negociadores, disse Panzini, a intenção foi deixar claro que a indústria não seria obstáculo.
"Nossa expectativa era de que nessa rodada já fosse possível falar de desgravação, períodos do acordo, mas não houve esse movimento europeu, a gente espera que venha agora", afirmou Panzini.