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Aliado de Alckmin, centrão já discute "fatura" para apoiar Bolsonaro ou Haddad no 2º turno

Publicado 19.09.2018, 20:40
© Reuters. Candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, durante entrevista à imprensa estrangeira em Brasília

Por Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - Partidos do centrão --formado por PP, PR, PRB, DEM e Solidariedade--, formalmente coligados ao presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, já discutem a "fatura" que vão cobrar para apoiar o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, ou a candidatura do petista Fernando Haddad no segundo turno, afirmou um dirigente do grupo à Reuters sob a condição do anonimato.

A constatação do grupo é que o tucano --sem ter reagido nas pesquisas de intenção de voto-- praticamente não tem mais condições de chegar à etapa final da corrida ao Palácio do Planalto e que, por essa razão, o blocão começou a conversar entre si e com lideranças da campanha de Bolsonaro e Haddad sobre como pode se dar o apoio.

Segundo essa fonte, a ordem é que lideranças do grupo não deixem Alckmin isolado até o primeiro turno da campanha, que ocorre no dia 7 de outubro. Mas já há tratativas nos bastidores para tentar fechar apoio para um dos candidatos. A "fatura" será o espaço que cada um dos presidenciáveis vai oferecer aos partidos do bloco no governo, caso seja eleito.

"Não acredito que ninguém vá abandonar a campanha do Alckmin, mas certamente o centrão já está se reunindo para juntos marchar para uma candidatura no segundo turno", disse essa fonte. "Vamos negociar juntos e ver que posição vamos solicitar", acrescentou.

A intenção de negociação em bloco é para aumentar o cacife do centrão com qualquer que seja o presidenciável, ainda mais tendo em vista que o eleito vai precisar de apoio no Congresso para tentar aprovar sua respectiva agenda de reformas no início do governo. Tanto Bolsonaro quanto Haddad disporiam, no momento, de fraca base parlamentar a julgar pelas coligações feitas na campanha.

No segundo turno, o tempo de horário eleitoral dos candidatos no rádio e na TV é igual e o eventual apoio de novos partidos, ao contrário da primeira etapa de votação, não tem qualquer interferência nisso. O aval a um determinado presidenciável é mais uma demonstração de força política.

Qualquer que seja o eleito, o bloco quer manter ao menos os espaços que possui no governo Michel Temer, disse a fonte. Por exemplo, o PP comanda atualmente os ministérios da Saúde e da Agricultura, além da presidência da Caixa, e o PR controla a pasta dos Transportes.

O grupo deverá tomar uma decisão conjunta --assim como ocorreu quando fecharam com Alckmin--, mas há a possibilidade real de racha do grupo. Isso porque o DEM --tradicional crítico do PT-- não deve referendar um apoio à candidatura de Haddad, mesmo diante de uma eventual posição dos demais integrantes do bloco nesse sentido.

O presidente licenciado do partido de Bolsonaro, Luciano Bivar, admitiu mais cedo à Reuters que há conversas entre integrantes da campanha do candidato do PSL com lideranças de partidos que atualmente estão coligados com Alckmin a fim buscar um apoio à candidatura do militar da reserva para uma disputa de segundo turno, mas não quis dar detalhes das tratativas.

O coordenador da campanha de Bolsonaro em São Paulo, deputado Major Olimpio, disse não acreditar que a presença em cargos faça parte das negociações em torno de apoio de partidos a Bolsonaro no segundo turno.

"Se depender de fatura, não estará com o Bolsonaro. Ele jamais entraria no toma lá, dá cá", destacou Olimpio, ao ressalvar que esse questionamento tem de ser feito ao próprio presidenciável --que está hospitalizado há quase duas semanas se recuperando de um atentado em evento de campanha em Juiz de Fora (MG).

ARTILHARIA

Na reunião da noite de terça-feira com partidos aliados, Alckmin foi cobrado a subir o tom contra os rivais. O tucano, que resistia a um ataque mais incisivo, decidiu elevar o tom contra Bolsonaro e Haddad nos programas e inserções no rádio e na TV.

Ele vai explorar ainda mais as declarações polêmicas do candidato do PSL e associando uma possível volta do PT ao poder a uma crise econômica que poderia levar o Brasil a enfrentar uma penúria nos moldes venezuelanos, disse outro dirigente partidário presente ao encontro à Reuters.

Essa decisão --a principal iniciativa para tentar reverter o mau desempenho nas pesquisas ao Palácio do Planalto-- foi tomada após o candidato reunir pela primeira vez desde que começou a campanha os representantes dos nove partidos que compõe a coligação tucana, de acordo com essa fonte.

© Reuters. Candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, durante entrevista à imprensa estrangeira em Brasília

Um indicativo de que o grupo aposta cada vez menos no tucano nesse encontro foi que nem todos os presidentes de partidos estiveram presentes. O Solidariedade, por exemplo, enviou um representante, enquanto a Força Sindical, que forma a base do partido, nesta quarta-feira fazia ato de apoio ao presidenciável do PDT, Ciro Gomes, junto com outras centrais sindicais.

De acordo com a fonte, durante toda a reunião o PSDB tentou demonstrar que ainda há tempo de reverter a situação de Alckmin nas pesquisas, citando a campanha de Aécio Neves em 2014. Na época, o senador estava em terceiro nas pesquisas faltando o mesmo tempo para a eleição e só se aproximou e passou de Marina Silva na última semana.

Segundo a fonte, havia um clima de preocupação na reunião e de cobrança para que Alckmin fosse mais incisivo, em uma última tentativa de reverter resultados nos poucos dia que faltam até o primeiro turno.

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