Por Eduardo Simões e Maria Carolina Marcello
SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - O atentado com uma faca na quinta-feira contra o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, lança ainda mais incerteza sobre a mais imprevisível disputa pela Presidência da República desde a redemocratização, e coloca em compasso de espera as campanhas dos demais candidatos que vinham centrando ataques no postulante do PSL, o líder da disputa.
Analistas ouvidos pela Reuters avaliam que o ataque contra o capitão da reserva, durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG) que o levou a passar por uma cirurgia de emergência ainda na quinta, pode gerar uma comoção que beneficie Bolsonaro eleitoralmente.
Lembram, no entanto, que o candidato do PSL é uma figura controversa, com elevado patamar de rejeição segundo as pesquisas de intenção de voto, e terá um tempo limitado até as eleições para consolidar seu discurso após o ataque.
"Um evento como esse pode significar uma virada? Pode. Mas tudo depende da narrativa que vai ser construída a partir daí", disse à Reuters o cientista política Creomar de Souza, da Universidade Católica de Brasília.
"Eu acredito que nas próximas semanas, o que a gente vai ter que se atentar com muita calma é como a campanha do Bolsonaro vai internalizar o fato, que tipo de narrativa eles vão construir a partir desse fato e como os concorrentes vão internalizar a questão", acrescentou.
Na avaliação de Carlos Melo, cientista político do Insper, é provável que o episódio renda votos a Bolsonaro, especialmente entre eleitores que pendiam para o militar da reserva, mas que ainda estavam constrangidos em assumir essa posição. Ele ressalta, entretanto, que o tamanho deste crescimento é incerto.
"Não vejo, porém, como e por que eleitores que antes o rejeitavam passem automaticamente a apoiá-lo. Não se deve confundir a solidariedade natural de momentos assim com a automática transferência de votos. É plenamente possível repudiar o atentado e ao mesmo tempo rejeitar o candidato", disse.
Após o atentado, e depois de Bolsonaro passar por uma cirurgia de emergência que pode impedi-lo de fazer campanha até o primeiro turno, marcado para daqui a um mês --o tempo mínimo de internação segundo os médicos é de uma semana a 10 dias--, aliados e filhos do candidato do PSL têm afirmado que o episódio o levará a vencer já no primeiro turno.
O analista Danilo Gennari, sócio da Distrito Relações Governamentais, acha difícil prever os efeitos do caso na eleição, ao mesmo tempo em que vê potencial para Bolsonaro consolidar sua força entre os já "convertidos". Isso porque o atentado não deve ajudar o candidato do PSL entre críticos de declarações polêmicas que fez recentemente, como a de que iria "fuzilar a petralhada do Acre".
"Por outro lado, pode dificultar um pouco ele a ampliar votos onde ele ainda não tinha. Eu arriscaria dizer que a gente vai ter pouco variação nos votos dele que podem ser creditadas a isso", disse Gennari.
Diante de um episódio tão imprevisível e de um cenário ainda muito nebuloso, todos os olhos dos envolvidos na eleição e daqueles que a acompanham deverão estar voltados ao levantamento que o Datafolha fará e divulgará na próxima segunda-feira sobre a corrida presidencial.
CAMPANHAS RIVAIS
Além de mirar no candidato do PSL, a facada desferida em Bolsonaro por um homem que foi preso e confessou o crime na própria quinta-feira também teve impactos nas campanhas dos rivais do deputado.
Os principais adversários de Bolsonaro repudiaram o atentado, criticaram a violência na política, desejaram pronto restabelecimento do candidato do PSL e cancelaram suas agendas de campanha para esta sexta, feriado do Dia da Independência.
Bolsonaro era alvo constante de ataques da campanha do candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, que nesta semana, antes do atentado, disse que o candidato do PSL é o mais despreparado entre os postulantes ao Palácio do Planalto, e que faria o possível para impedir sua eleição.
O candidato do PDT, Ciro Gomes, disse, também nesta semana e antes do ataque, que eleger Bolsonaro seria um suicídio coletivo, e a postulante da Rede, Marina Silva, teve duro embate com Bolsonaro em um debate televisivo recentemente, de olho no eleitorado feminino, onde o militar da reserva enfrenta dificuldade.
Após o ataque contra a vida de Bolsonaro, no entanto, o tom dos adversários contra o candidato do PSL deverá ser modulado e as campanhas agora devem estar em compasso de espera.
"Eles (adversários) estão tentando ver o que está acontecendo, olhando mapa de palavra na internet, tentando fazer algum levantamento, alguma pesquisa, para saber para onde a campanha vai", disse Creomar de Souza, que aponta a estratégia de Alckmin como a com maior potencial de ter a estratégia revista.
"Como é que você vai fazer campanha batendo no Bolsonaro, tendo em vista que ele sofreu um atentado? Isso pode pegar muito mal. Nesse exato momento. Eu imagino que a equipe do Alckmin, por exemplo, que tinha modulado uma estratégia de desconstruir o discurso de violência do Bolsonaro, está tendo que às pressas refazer material."
Já a campanha de Bolsonaro, na avaliação do cientista político da Universidade Católica de Brasília, terá o desafio de fazer escolhas corretas para transformar o atentado em impulso eleitoral ao candidato do PSL.
"Na verdade, a bola está com a campanha do Bolsonaro. Agora é saber se eles vão conseguir jogar o jogo", disse.
(Reportagem adicional de Brad Brooks)