Por Eduardo Simões e Maria Carolina Marcello
SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - O PT manterá a estratégia de insistir na candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência e não tratará publicamente de possíveis alternativas enquanto houver chance de Lula entrar na disputa.
Na avaliação de analistas ouvidos pela Reuters, o partido seguirá nesta estratégia mesmo após a confirmação da condenação de Lula na segunda instância nesta semana para manter sua base mobilizada no discurso de que Lula e o PT são perseguidos, garantir a exposição midiática do partido e aumentar as chances de transferência de voto do ex-presidente ao nome alternativo que vier a ser lançado.
Contribui também para esta estratégia petista o fato de o partido não ter nomes competitivos para assumir de imediato a candidatura no lugar de Lula, que lidera as pesquisas de intenção de voto para o Palácio do Planalto nas eleições de outubro deste ano.
"O discurso não é muito diferente deste que a gente está vendo agora, o de apontar o caráter político da decisão, é isso que eles vão seguir dizendo, apontar que foi uma vitória no tapetão, vamos dizer assim, e não admitir a possibilidade de Plano B enquanto não esgotar as possibilidades de recurso", disse o cientista político da Fundação Getulio Vargas Claudio Couto.
"Até onde a vista alcança, acho que segue essa mesma lógica daqui para frente... Se o Lula vier a ser preso, é possível que você tenha uma mudança nessa orientação."
Para Couto, os dois nomes que têm sido apontados como alternativas a Lula dentro do PT --do ex-governador da Bahia Jaques Wagner e do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad-- não têm "punch" para entrar na disputa presidencial para valer.
Ele avalia, ainda, que a alternativa mais pragmática para o PT seria o apoio da legenda a um candidato de outro partido, com Ciro Gomes (PDT) como nome mais provável, mas reconhece, ao mesmo tempo, que essa opção não é da tradição do PT.
Para o analista político e professor da Universidade Católica de Brasília Creomar de Souza, as eleições deste ano implicam para o PT a luta pela sobrevivência do partido, que já se enfraqueceu bastante na eleição municipal de 2016.
"O PT na verdade nessa eleição, em algum sentido, ele não joga apenas a questão do Lula. Ele joga a própria sobrevivência, porque o partido tem um risco de encolhimento muito grande", disse Souza, lembrando que o partido terá de tentar manter uma bancada federal grande, mesmo diante das dificuldades, diante de novas regras para as eleições seguintes à deste ano que limitam acesso a recursos como os fundos eleitoral e partidário.
"Dentro dessa estratégia, a saída que o PT encontrou foi construir uma narrativa baseada na ideia de que há um determinado grau de confronto, que o Lula é vítima de uma grande perseguição política, e de que o PT em algum sentido continua sendo o único partido que de fato compreende as necessidades da sociedade brasileira e, sobretudo, dos mais pobres", acrescentou.
A manutenção desse discurso serve também para manter uma intensa mobilização da base petista e ainda elevar as chances de Lula transferir seu capital eleitoral ao escolhido pelo PT para substituí-lo na disputa.
"A gente acha que a estratégia que o PT vai seguir é ir até o final com o Lula. Porque essa é a estratégia que mais maximiza a capacidade de transferência de votos dele", disse o analista sênior do Eurasia Group para o Brasil Silvio Cascione.
"Se o partido decide lançar um Plano B desde já, a capacidade de transferência de voto já fica prejudicada, o nome que for colocado em evidência já fica mais vulnerável para ataques. A expectativa nossa é que o PT siga enquanto puder com o Lula", acrescentou.
Nessa linha, lideranças petistas voltaram a reiterar que não existe Plano B e que Lula será o candidato da legenda em outubro.
Apesar da crescente probabilidade de Lula não poder disputar a eleição, lideranças partidárias afirmam acreditar na reversão da decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região que manteve a condenação de Lula por corrupção e lavagem de dinheiro no caso envolvendo o tríplex no Guarujá (SP).
O líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), disse que não tem plano B. "Nosso candidato lidera em todas as pesquisas, e é o melhor nome para o país. Aceitar uma hipótese de plano B é aceitar a criminalização do Lula e aceitar uma eleição fraudulenta", disse.
Pimenta ressaltou que a estratégia do partido é registrar a candidatura de Lula até o dia 15 de agosto e que nem sequer cogita pensar no fato de que o ex-presidente possa ser preso antes dessa data.
ELEIÇÃO SEM LULA
Para os analistas, caso confirmada a inelegibilidade de Lula, os maiores beneficiários de seus votos devem ser candidatos de centro-esquerda, como Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes, como já apontaram, aliás, pesquisas de intenção de voto em cenários com e sem a presença de Lula.
Vice-líder nas pesquisas, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que deverá se filiar ao PSL para disputar o Planalto, é visto pelos analistas como prejudicado pela ausência de Lula na eleição.
"Eleição sem Lula para o Bolsonaro é ruim, porque ele vai bater em quem?", disse Souza.
"O Bolsonaro só tem tijolos dentro da bolsa e para arremessar os tijolos ele precisa de uma vidraça. A única vidraça consistente é o Lula", acrescentou.
(Reportagem adicional de Ricardo Brito)