Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Próximo presidente da Petrobras (SA:PETR4), Pedro Parente terá como principal desafio administrar diferentes expectativas para a condução da estatal, historicamente utilizada como instrumento de políticas públicas e que atualmente enfrenta dívidas bilionárias e luta para reconquistar a confiança do mercado.
A indicação de Parente à presidência foi anunciada pelo governo federal, acionista controlador, e comunicada à Petrobras na noite de quinta-feira, quando o executivo prometeu em uma entrevista coletiva em Brasília que terá uma gestão "estritamente profissional" e sem indicações políticas.
Seu nome foi bem recebido pelo mercado financeiro, pela indústria de petróleo e por especialistas do setor, principalmente pelo seu perfil considerado alinhado com o mercado e com experiências no governo e no setor privado.
Enquanto investidores querem ver a estatal dando lucro, reduzindo seu endividamento e aumentando o valor de suas ações, o governo já utilizou a estatal para anunciar investimentos em áreas politicamente estratégicas, além usar o congelamento de preços de combustíveis para fazer frente à ameaça inflacionária.
"Pedro Parente representa um salto de qualidade na gestão da Petrobras", disse à Reuters Roberto Castello Branco, conselheiro da Petrobras em 2015 --durante a gestão do atual presidente, Aldemir Bendine-- e ex-diretor-financeiro da Vale (SA:VALE5).
A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e o Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), que representa as petroleiras com atuação no Brasil, também enviaram nota a jornalistas comemorando o nome de Parente.
Entretanto, os sindicatos de funcionários reagiram fortemente, por entender que Parente tem um perfil liberal e irá acelerar ainda mais o plano de venda de unidades da empresa, que representar eventualmente corte de vagas.
"Acho lastimável a indicação de Pedro Parente, não poderia ter uma pessoa pior", afirmou à Reuters José Maria Rangel, ex-representante dos funcionários no Conselho da Petrobras e coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP).
A FUP é historicamente ligada ao Partido dos Trabalhadores (PT), da presidente afastada Dilma Rousseff, embora recentemente a federação tenha se tornado uma grande crítica de medidas tomadas durante a gestão da presidente, quando foi colocado em curso o bilionário plano de desinvestimentos da petroleira.
Indicado pelo presidente interino Michel Temer, Parente, 63, é formado em engenharia, foi ministro do Planejamento e da Casa Civil do ex-presidente de Fernando Henrique Cardoso. Ele também presidiu a unidade brasileira da trading de commodities Bunge e atualmente é chairman da BM&FBovespa (SA:BVMF3).
VISÃO DE FUTURO
A capacidade que Parente irá mostrar para lidar com diferentes públicos, como governo, funcionários, população e mercado, será decisiva para o sucesso ou o fracasso de sua gestão, na avaliação de Edmar de Almeida, pesquisador do Grupo de Economia da Energia do Instituto de Economia da UFRJ.
"Eu não sei expectativa, mas posso dizer que tenho esperança de que ele consiga fazer o que está faltando", disse Almeida.
Para o professor, as duas principais tarefas de Parente serão aumentar a eficiência da companhia, o que em sua avaliação já estava em curso, e construir uma estratégia de longo prazo para a petroleira.
"Qual é a visão de futuro da empresa? A gente não sabe", afirmou o professor, reforçando que as indicações apresentadas no último plano de negócios da empresa estão desconexas com a realidade da empresa e do mercado de petróleo.
O analista da corretora Brasil Plural (SA:BPFF11) Caio Carvalhal destacou em relatório que o plano de negócios quinquenal deste ano da Petrobras estava previsto para junho e pode ser atrasado devido à mudança de gestão.
"O documento pode ser uma boa oportunidade para Parente apresentar sua visão de futuro para a Petrobras", afirmou.
Já o analista da Guide Investimentos Rafael Ohmachi disse que o nome foi bem recebido pelo mercado e trouxe boas expectativas, mas ponderou que é prematuro avaliar se ele fará uma boa gestão.
O posicionamento do futuro presidente sobre temas polêmicos como desinvestimentos, política de preços de combustíveis e possível aumento de capital é fortemente aguardado pelo mercado.
A permanência do atual diretor-financeiro, Ivan Monteiro, seria também positiva, na avaliação de diferentes analistas, que acreditam que o executivo tem feito um bom trabalho diante das dificuldades enfrentadas pela empresa.
"Nós acreditamos que o mercado vai aprovar se ele (Ivan Monteiro) ficar", afirmaram os analistas Andre Natal e Regis Cardoso, do Credit Suisse, em um relatório.
O nome de Parente será levado para a avaliação do Conselho da Petrobras na próxima segunda-feira, quando ele poderá se tornar também um membro do colegiado.
RESISTÊNCIA DOS SINDICATOS
Mas sua chegada na Petrobras não será totalmente cercada por aplausos. Os sindicatos de funcionários já reagiram fortemente ao seu nome e estudam manifestações na próxima segunda-feira.
"É inadmissível termos no comando da empresa um ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso que chancelou processos de privatização e tem em seu currículo acusações de irregularidades e improbidade na administração pública", disse a FUP em nota.
No ano passado, durante a gestão de Aldemir Bendine, a FUP liderou uma greve dos trabalhadores considerada a pior dos últimos 20 anos, que teve como principal motivação protestar contra os desinvestimentos da empresa. Foram registrados fortes impactos na produção.
Para Deyvid Bacelar, ex-representante dos funcionários no Conselho da Petrobras em 2015, Parente tem um perfil "ultraliberal" e isso o descredencia para assumir o comando de uma estatal tão importante para o desenvolvimento do país.
"Com um presidente desses, estamos lascados", disse Bacelar, que também é coordenador-geral do Sindipetro Bahia.
(Por Marta Nogueira)