Money Times - Até quando o presidente eleito Jair Bolsonaro poderá continuar “sendo Bolsonaro”? A retórica de sua corrida eleitoral, contra o petista Fernando Haddad, já começa a causar efeitos reais ao País. Talvez, a declaração que mais se encaixe nesta avaliação, está a ideia de transferência da Embaixada do Brasil em Israel, que fica em Tel Aviv, para Jerusalém. Com isso, o governo do Egito cancelou compromisso com o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, poucos dias antes dele desembarcar no Cairo para visita oficial.
Mas, como como agirá o Governo Bolsonaro no caso da necessidade de aprovar medidas impopulares ou que sejam contrárias à preferência ideológica de boa parte dos deputados? Este foi o questionamento feito pela consultoria política Pulso Público em uma extensa análise sobre os desafios do novo presidente.
“Se jogar com sua popularidade e com a expectativa de bônus eleitoral para convencer os aliados, Bolsonaro adotará uma estratégia de altíssimo risco e ficará à mercê da fortuna [sorte], visto que seu governo não estará calcado nos fundamentos do presidencialismo de coalizão. Há evidências sólidas de que o comportamento dos parlamentares é fortemente orientado pelos partidos, em detrimento até de outras questões como bancadas temáticas e bancadas estaduais, especialmente em função dos poderes concedidos aos líderes partidários”, destaca a Pulso.
Diga-me com quem tu andas…
O Índice de Necessidade de Coalizão (INC), que representa uma medida que associa a força do partido do presidente no Legislativo à fragmentação partidária, mostra que Bolsonaro tem um belo trabalho à sua frente.
Quanto mais frágil é o poder partidário do presidente e quanto mais fragmentado é o Legislativo, maior o INC.
Ao observar este gráfico, a Pulso ressalta que parece razoável, portanto, afirmar que um governo formado por uma Coalizão minoritária terá sérias dificuldades na próxima legislatura. “Para que um governo sobreviva, contudo, não é necessário que ele seja formado por uma maioria legislativa, mas sim que a maioria – ao menos – o tolere”, pondera a análise.
Conservadorismo
Bolsonaro viverá na sua presidência uma dependência de uma agenda de políticas públicas conservadora, o que fragiliza a perspectiva de sucesso da política econômica de cunho liberal esperada pelo mercado, ou qualquer outra medida que entre em choque com as perspectivas eleitorais de seus apoiadores.
“Se a sorte lhe sorrir, será capaz de contestar todo o arcabouço teórico e empírico do presidencialismo de coalizão. Contudo, os últimos a tentar algo parecido bateram no muro do impeachment e/ou lançaram mão de incentivos ilegais para incentivar os parceiros de coalizão”, afirma a consultoria.
Ou seja, Bolsonaro irá provavelmente estar nesta encruzilhada e com poucas alternativas a não ser a de recorrer a expedientes heterodoxos do ponto de vista político, “tais como práticas extremamente populistas ou que possam até mesmo vir a testar os limites do Estado Democrático de Direito”, conclui a Pulso Público.
Por Money Times