Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O Palácio do Planalto já esperava alguma ação da Lava Jato contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esta semana --o próprio já havia adiantado que seus sigilos bancário e fiscal seriam quebrados--, mas foi surpreendido com o mandado de condução coercitiva contra Lula e os de busca e apreensão envolvendo membros da sua família e pessoas próximas.
A presidente Dilma Rousseff chegou pouco depois das 8h da manhã desta sexta-feira ao Palácio do Planalto e convocou seus ministros mais próximos para uma reunião de emergência para avaliar o impacto da 24ª fase da operação Lava Jato, em mais um golpe para o governo depois das informações sobre o suposto acordo de delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo no Senado.
Pela manhã, estiveram com a presidente os ministros Jaques Wagner (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União), Edinho Silva (Secretaria de Comunicação Social) e Wellington Lima e Silva (Justiça).
Edinho criticou a ação contra o ex-presidente, que classificou como um "exagero".
"A primeira leitura é que é um exagero e, no meu entender, é ruim. Ficou nítido pela imprensa que ele sempre se colocou à disposição para prestar todos os esclarecimentos, para colaborar com as investigações", disse Edinho.
O mesmo argumento foi usado pelo ministro da Previdência e Trabalho, Miguel Rossetto, que disse estar “perplexo e indignado”.
“O presidente Lula já prestou depoimento e sempre se colocou à disposição das autoridades. Isso não é Justiça, isso é uma violência”, afirmou Rossetto, por meio de nota.
A primeira avaliação no Planalto repete a fala dos ministros, de que houve um exagero na condução coercitiva do ex-presidente, mas o governo ainda não conseguiu traçar uma estratégia de resposta à ação da Lava Jato. “É preciso aguardar primeiro, as próprias informações da força-tarefa foram muito confusas”, disse uma fonte palaciana, acrescentando que a reação foi de surpresa e preocupação.
Uma das razões da tensão no Planalto é a falta de informações sobre exatamente o que existe contra o ex-presidente. A aposta é de que as acusações contra Lula são frágeis e inconsistentes, e que os procuradores terão que justificar a ação ou correm o risco de fragilizar a própria investigação.
De acordo com a fonte, que falou sob condição de anonimato, há o temor de que a ação da Polícia Federal contra Lula exacerbe os ânimos e haja uma reação mais forte dos movimentos sociais, que ainda apoiam o governo e o ex-presidente, além de uma radicalização dos campos contrários. A confusão na frente da casa de Lula em São Bernardo do Campo (SP) foi citada como exemplo.
O monitoramento das redes sociais, disse a fonte, já mostra um aumento das adesões aos protestos marcados para o próximo dia 13. Do outro lado, aumenta também o movimento dos grupos que defendem o governo petista, com os diretórios regionais do partido e sindicatos organizando manifestações.
“Uma ala do governo avalia que vai haver uma radicalização, mas ainda é cedo para prever até onde vai. É preciso ver o que vai acontecer a Lula, os desdobramentos disso”, disse a fonte.
O Planalto ainda estuda que reação ter frente a mais essa fase da Lava Jato, especialmente frente ao risco que a delação premiada de Delcídio pode trazer para o governo. Há um temor de que haja uma corrida a novos pedidos de impeachment e uma aceleração do processo que já tramita na Câmara dos Deputados.
Outra fonte palaciana avalia que o governo não poderá se furtar de defender o ex-presidente, já que tudo o que acontece com Lula fragiliza o governo Dilma.
Na manhã desta sexta-feira, depois de uma reunião emergencial com seus ministros mais próximos, a presidente deu prosseguimento à sua agenda normalmente, fazendo uma reunião com prefeitos para tratar de CPMF, reforma da Previdência e dívidas municipais.
Há uma avaliação dentro do governo e entre cientistas políticos de que dificilmente o governo conseguirá sair da paralisia e será quase impossível tocar a agenda legislativa em meio a uma guerra de sobrevivência no Congresso.